quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Três Pontos



– Ei...

Steve quebrou o silêncio. Sua cabeça estava encostado no peito de Miguel, agora seminu após ter tirado a camiseta para se deitar.

– Por que tudo tem que ser tão complicado com você?
– Hum...

Miguel ouviu. Não queria responder nada, mas sabia que ficar em silêncio também não seria legal. Tentou dizer algo, mas esse foi o único som que saiu de seus lábios. Para Steve tudo estava bem, ele só precisava dizer algo que Miguel pudesse ouvir, então continuou.

– Eu te amo. Você sabe bem disso. – Seu braço apertou mais a cintura de Miguel, trazendo ele ainda mais para perto, como se isso fosse possível na lei da física. – Você é a minha peça quebrada.

– Por que você age assim?
– Assim como?
– Você se maltrata quando tem medo de assumir que está triste.
– Não é sobre minha tristeza, é sobre minha felicidade.
– Não entendo.

– Ela é importante. E qualquer coisa que possa me aproximar dela também será. Quando me afastam disso, eu dou o meu jeito de voltar pra perto dela.

– Tenho medo dos seus “jeitos”.

Com a cabeça, Steve se aninhou mais ainda ao peito de Miguel. Este apenas oferecia os dedos entre as mechas louras de seu cabelo. E conforme a conversa fluía, mais próximos eles se sentiam um do outro.

– Com você é sempre isso, Miguel. Três pontos.
– Não entendi.

– É tudo sobre três pontos e mais nada. – Levantou a cabeça e olhou para o verde dos olhos de Miguel. – Eu preciso do seu ponto final. Não gosto dessa coisa com dois pontos se explicando o tempo todo, nem desses três pontos ficando sempre no meio da história.

– Você está dizendo que estou adiando algo?

– Não. Eu estou dizendo que sou o seu “Três pontos”.

– Eu não te coloco na espera, Steve, não mesmo.

– Você me coloca no melhor lugar que você consegue. E este lugar é no fim de uma frase, porém ele não é o fim de uma história, nem mesmo de um parágrafo.  São apenas reticências esperando que a história volte de onde parou...— Observou o olhar curioso de Miguel. – ...está tudo bem para mim. Como eu já disse: prefiro os pontos finais, mas fico feliz de não ficar sendo o seu “dois pontos”. É tão ruim se explicar o tempo todo.

Os olhos de Steve, naquele seu azul-claro, logo começaram a se intensificar num azul mais denso. Ele não queria demonstrar isso para Miguel, ele não precisava vê-lo chorar. Voltou a sua cabeça para o peito do garoto. Este que entendeu o sentimento contido em cada palavra e preferiu guarda-las para si a dizer algo que não fosse o que Steve merecesse ouvir. Miguel o amava muito mais do que conseguia pôr em palavras, e chegaria a hora de dizer isso a ele, uma hora de pontos finais e não mais de reticências.

Saiba mais sobre essa história na seção Carpe Diem

Imagem: Favim.com

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Ela só quer viajar


Vestido ao chão, algumas peças jogadas e outras que deveriam estar dentro do guarda-roupas e fora daquelas malas. Na parede muitas fotos, dançando, sorrindo, com muitas amigas e muitos lugares. Em cima da cabeceira um abajur e o passaporte com muitos carimbos. E, mais ao fundo, longe dos olhos, fora do alcance de todos, estava aquela estante imaginária onde mantinha sua coleção de corações.

Algumas horas antes, quando ainda estava em meio a música e dançando, embalada e dropando a pista sem ter medo das ondas que a envolvia. Ela estava livre, sem grilhões em suas pernas. Ela chegou depois de todos, seu próprio carro, com seu próprio dinheiro. Bebia o quanto queria, usava das artimanhas que sua beleza lhe favorecia, mas era tudo sobre ela e mais ninguém.

"Tão gata e ao mesmo tempo tão louca."

Era essa a frase que a descrevia. Bendito seja aquele que possa conquistá-la. Porque todos os outros já tentaram, mas só ganharam um espaço naquela sua velha prateleira. Um cara na sua companhia, nunca mais se interessa por outra. Ela aprendeu que os duros não sofrem, os moles, bem, esses não conseguem se manter em pé sozinhos.

Existe uma vilã que domina todos os tipos de planta, seu cheiro seduz todos os homens. Ela se alimenta de seus desejos e os manipulam para sua vontade. Não que desejasse ser assim, mas como uma flor, ela tem o melhor dos cheiros e o mais afiado espinho. Mas esta não saiu de uma história em quadrinhos. Não controla flores, a sua arma, seu batom, mata muito mais que qualquer outra.

Há alguns anos atrás ela foi como uma das garotas que não estavam ali. Ela era o almoço em família, o jantar na casa do namorado. Ela conhece bem o que é ser a companhia da sogra para um passeio ao shopping. Ou a viagem com o namorado num final de semana. Ah, ela sabe como ninguém tantas coisas. E o que vem após todas essas. Cada dia, cada lágrima. Já foi muito magoada, por isso magoa sem dó.

Agora só sente falta do vento em seus cabelos. Da brisa leve do mar ou o cheiro do campo. Ela gosta é de se sentar e ver a asa do avião enquanto este levanta voo. Gosta de neve no nariz, ela nunca se importa onde está, sua mente sempre foi o seu lar.

O vestido continua no chão, aquelas velhas roupas no mesmo lugar. Ela decidiu que ficam melhores fora do guarda-roupas e dentro de suas malas. O passaporte, ainda fácil, na cabeceira da cama, é só dele que precisa. E mais nada, nem ninguém.

Aquele coração novo na sua estante imaginária.
Ele queria tento conquistá-la.

Mas ela só quer viajar,
daqui pra qualquer lugar...



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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Eu gosto é de poesia


Não que uma falta de rima seja descartada, nem palavras erradas devam ficar exiladas deste meio. Não exijo melodias, nem quero que isso seja apenas um musical de lindas canções contracenadas num palco onde a vida senta na primeira cadeira para assistir. Mas eu gosto é de poesia.

Cada verso tem seu miticismo, e desenham a história de dois pares de olhos. Dançando em silêncio. Falando coisas que eles entendem. Ninguém rima aqui, nem querem fazer muito sentido na verdade. A canção que eles dançam é sobre sentimento de um peito que é valsa, samba, lambada e qualquer outra coisa que necessite de movimento.

Não me venha com rimas em estrofes. Já disse que gosto é de poesia. Mas eu gosto é dessa poesia que a vida faz, não essa que você tentam planejar para si mesmo. Gosto quando o canto de um pássaro rima com o barulho dos ventos chicoteando as árvores. Gosto da água caindo num dia de chuva, esfriando tudo, e limpando o céu aos poucos. 

E não ordene palavra, nem a geometria do meu poema. Deixa ele ser como é. Vermelho, verde, anil ou violeta. Nem um arco-íris gosta de ser domado. Ele é poesia de sol e chuva, assim como aqueles pares de olhos. É só sobre seus próprios versos e de mais ninguém.

Como desvendar uma estrofe que fale sobre o seu cheiro? Ou que, ao menos, diga como ele fica sobre minha pele toda vez que você termina um abraço?  Não há rimas suficiente que descrevam o tremor que nasce e morre nela toda vez que você me toca.

Quem inventou a saudade? Ah, este sabe como ninguém o que é ser poeta. Esse, grande malandro, sabe bem como escrever as mais belas linhas de um poema. Falar sobre um alguém que está tão longe, sendo que esse alguém acabou de sair pela porta. Nem um arco-iris gosta de ser domado, mas às vezes, algumas pessoas conseguem manter as rédeas da sua inspiração.

Mas voltando ao inicio de tudo. Eu gosto mesmo é de poesia. Quando seu sorriso rima com o meu, naquele momento idiotas que você me torna um boneco fantoche e cria as minhas falas só para me ver rir quando acabei de acordar.

Eu gosto é quando seus dedos se tornam versos em minhas mãos. Durante nossa noite de sono, quando eu me afasto e você me traz pra perto, vira de costas e pede para que eu te abrace ainda mais forte, mesmo sem ter dito uma sequer palavra.

Gosto das estrofes que seus beijos criam nos intervalos que você me deixa sem ar. Quando meus dedos entram em seus cabelos e suas mãos começam a apertar minhas costas como quem pede pra parar. Mas se eu parar, sofrerei sua ira por isso.

E eu amo saber que você é o poeta que me escreveu.
Todos os dias, enquanto eu só queria ser mais um texto sem rima seu.

Desculpe aos que não se inspiram.
Mas essa é minha rima. E você minha poesia.

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Quantos amores você precisa?


Quando somos mais novos, mais precisamente na adolescência, passamos a olhar para as pessoas com outros olhos. Muito amigos passam a serem mais do que isso nessa época, e aí que toda a história começa.

Ah, o primeiro amor! Já notou como ele é voraz e avassalador? Ele vai queimando tudo e não se importa com nada na frente. Só quer ser mais e mais quente, esbarrando e empurrando qualquer um que entre na frente. O amor adolescente é como uma cachoeira, caindo e caindo, sempre águas em movimento e turbulência, não afoga ninguém, mas molha o corpo todo.

Nesse que vem aquela vontade de fugir de casa, entregar-se de corpo e alma. Vem a vontade de não se importar com mais nada e até arriscar uma vida na praia sem emprego e apenas vivendo do sentimento. Até que ele acaba.

A primeira vez solteiro, depois de alguns anos namorado, essa fase se faz crucial para todos. Aqui, após a fase da adolescência, colocamos um pouco o pé no chão, enquanto viramos noite e muitas ressacas para perceber que dá pra ser feliz sozinho.

Essa fase é como um rio gelado, num dia nublado. Ela te encharca por completo, alguns mergulham de cabeça nela, e ficam se afogando lá por dias, meses e anos. As águas falam sobre um gostar e desgostar de coisas e pessoas, molham qualidades e defeitos, tanto de quem está no rio, quanto de quem grita para salvar essa pessoa. É a fase do "não é você, sou eu". Conhece essa frase? Já disse? Já ouviu? Você já tentou ser a boia de alguém, todos já tentamos.

Ser solteiro, para alguns, é como ter perdido algo, uma batalha de uma guerra. E enquanto essa pessoa se sentir uma derrotada, só vai levar tiros e mais tiros no meio deste conflito. Para outros, os mais espertos, é a fase do conhecimento, a fase de ter perdido uma batalha, mas saber que a guerra ainda está acontecendo. Alguns aprendem a nadar em rios gelados, outros ficam a se afogar cada vez mais.

Os que somente se afogam, voltam para muitas cachoeiras. Que encharcam o corpo todo, mas não tira o ar. E continuam a agir da mesma forma, querendo fugir de casa, largar tudo e ser feliz vivendo em uma praia de sentimentos. Praia, parece engraçado pensar em água Salgada depois de muitas cachoeiras e rios gelados, parece até um alivio pisar na areia. Porém essa nunca chega aos pés.

Têm aqueles que aprendem a nadar. Esses quando saem do rio, tremem, sentem muito frio. Tentam se aquecer e descobrem que o corpo pode ser capaz disso sozinho. Esfregam o peito e continuam a caminhar. Agora em mata fechada, sem rios, sem correntezas, apenas caminhos secos e muito a se pensar.

Esses, se tornam o dono do lugar. Descobrem que cachoeira que encharcam, podem lhe afogar se você tentar respirar sob ela. Vêem aventura em rio frio num dia nublado. Às vezes nadam, às vezes bóiam, outras apenas deixam se levar, só para sentir a água correr por seu corpo.

Aqui, você já aprendeu a ser a cachoeira de alguém, o rio turvo e a passagem por entre as matas. Você aprende a se afogar em águas rasas quando necessário. E que praia é gostoso num dia de verão, mas não pra passar todos os dias de sua vida. Você foge de casa, na madrugada, enfrenta chuva, frio, sol e o que mais for preciso para estar lá por este que te faz perder o ar.

Aqui você já perdeu as contas de quantos amores precisou para ser o sorriso no rosto de alguém. Quantas lágrimas deixou cair para se tornar um choro de alegria. Já não sabe mais o número de mensagens que escreveu e não enviou, menos ainda o número das que enviou.

Você perde conta de muitas coisas, de datas, de apelidos, de abraços e saudade. Você esquece de quanto viveu até estar aqui, mas o que nunca  esquece é o que viveu até chegar aqui.

Então, pense direito: Quantos amores são preciso para você estar pronto?
Porque no fim, você só vai precisar de um para fazer sentido a todos os outros.

Imagem: Quotes Gram

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Este é sobre você

"Lá vou eu, falar demais."
Isso é o que passa na minha cabeça quando penso que estou escrevendo algo sobre alguém. Normalmente, quando eu falo, eu consigo me controlar, e dizer só o que possa estar na minha zona de conforto. Mas quando é sobre papel e caneta, eu gosto é de escândalo, um bom barraco e boas palavras rasgadas que ninguém nunca tem coragem de dizer. O papel é o meu palco, e nesse caso, você é protagonista do show.

Eu não deveria escrever nada sobre ninguém. Prometi para mim mesmo que não faria isso, mas eu sou um enganador. Não com as outras pessoas, mas comigo mesmo. Sempre prometo o que não posso cumprir. Há algum tempo atrás tinha prometido que não iria me envolver com ninguém, prometi que não ia sair no sábado, iria dormir e ir trabalhar logo cedo no dia seguinte. E agora, aqui, você sabe que não cumpri nenhuma dessas.

Eu estou completamente apaixonado por você. E isso você não precisa me ouvir dizer pra saber. Olhando nos meus olhos, sentindo o meu peito ao seu lado, te deixa ciente disso. Eu me lembro que no primeiro dia, quando você se despediu de mim, bem depois de toda a conversa sobre “não vai embora não, não quero te perder” (cara você tinha acabado de me conhecer), você olhou em meus olhos e disse: Eu não quero me despedir de você. E agora eu que digo isso todos os dias quando você vai embora.

Você não sabe muito os lugares por onde andei, nem eu sei os caminhos teus. Mas prometemos que seria mesmo assim: nos descobriríamos aos poucos, para que pudéssemos aproveitar cada detalhe do que somos no hoje. Mas eu queria te contar algo: Eu sempre contei sobre amor, mas nunca pude vivenciá-lo sem medo. Claro, já tive minhas histórias, onde eu acreditava em tudo de olhos fechados, teve os meus erros, teve o erro dos outros. E, por conta disso, eu nunca pude ser o “felizes para sempre” de ninguém.

Eu não sei muito sobre nós. Na verdade, nem quero saber. Dizem que as melhores coisas a gente não explica, apenas sente. E estar com você é tudo sobre isso, sentir e sentir.

Eu já escrevi tantas histórias sobre a pessoa perfeita, nos seus defeitos, suas piadas e esquisitices singulares. E me impressiono, cada dia mais, quando percebo que minhas histórias, que vêm de meses anteriores ao que te conheci, sempre descreveram os seus defeitos, as suas piadas e suas esquisitices singulares. Não sei se eu te inventei, mas se foi, cara eu sou mesmo bom nisso de criar.

Sinceramente, eu não sei como eu fico todas as vezes que você vai embora. Uma parte vai junto, e tudo que eu olho no meu quarto é sobre você. As pessoas dizem que saudade é um sentimento ruim, bobagem. Nela que eu entendo o quanto esse tempo com você foi importante pra mim, e sei que também é pra ti.

Eu só quero te agradecer. Por muitos sorrisos, a cama gigante que só precisa de um lado para nós dois. Agradecer pelos muitos chocolates, coca-cola e manha quando está com dor. Por você me fazer sorrir quando somos mais que tesão.

As pessoas acham que tudo isso que eu disse aqui, é coisa de gente tonta, que ninguém vive essas histórias que estão nos livros. Quanta gente boba. Eu sofri todo esse tempo, porque a minha ainda estava sendo escrita, por alguém que não precisa me provar que pode me fazer feliz. Demorei muito pra te encontrar, porque eu precisava ser capaz de fazer o mesmo por você. Então, estou aqui, e fico feliz por saber que você também está.

Eu não queria falar demais, mas você já me conhece. Pouco tempo, mas já sabe muito sobre mim. E sei que você não se importa se eu disse todas essas coisas. O que eu não quero é ficar guardando tanta coisa boa sobre você, sem te deixar saber sobre elas.  E só mais uma coisa, cara, esse seu ciúmes disfarçado de brincadeira é a coisa mais doida e fofa que já vi

E sobre ser um poeta,

Às vezes é apenas poesia,
Ou texto sem rima,
Outras é sobre flores, músicas,
Contos, histórias, coisas por dizer.

Então faça o favor de saber,
Assim como eu sei tudo sobre este sorriso em seu rosto.
O mesmo que me fez te pertencer.
Eu sempre inventei muitas histórias,
Mas esta, é só sobre você.

Imagem: Sithy Things

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