Três Pontos
– Ei...
Steve quebrou o silêncio. Sua cabeça estava encostado no
peito de Miguel, agora seminu após ter tirado a camiseta para se deitar.
– Por que tudo tem que ser tão complicado com você?
– Hum...
Miguel ouviu. Não queria responder nada, mas sabia que ficar
em silêncio também não seria legal. Tentou dizer algo, mas esse foi o único som
que saiu de seus lábios. Para Steve tudo estava bem, ele só precisava dizer
algo que Miguel pudesse ouvir, então continuou.
– Eu te amo. Você sabe bem disso. – Seu braço apertou mais a
cintura de Miguel, trazendo ele ainda mais para perto, como se isso fosse
possível na lei da física. – Você é a minha peça quebrada.
– Por que você age assim?
– Assim como?
– Você se maltrata quando tem medo de assumir que está
triste.
– Não é sobre minha tristeza, é sobre minha felicidade.
– Não entendo.
– Ela é importante. E qualquer coisa que possa me aproximar
dela também será. Quando me afastam disso, eu dou o meu jeito de voltar pra
perto dela.
– Tenho medo dos seus “jeitos”.
Com a cabeça, Steve se aninhou mais ainda ao peito de
Miguel. Este apenas oferecia os dedos entre as mechas louras de seu cabelo. E
conforme a conversa fluía, mais próximos eles se sentiam um do outro.
– Com você é sempre isso, Miguel. Três pontos.
– Não entendi.
– É tudo sobre três pontos e mais nada. – Levantou a cabeça
e olhou para o verde dos olhos de Miguel. – Eu preciso do seu ponto final. Não
gosto dessa coisa com dois pontos se explicando o tempo todo, nem desses três
pontos ficando sempre no meio da história.
– Você está dizendo que estou adiando algo?
– Não. Eu estou dizendo que sou o seu “Três pontos”.
– Eu não te coloco na espera, Steve, não mesmo.
– Você me coloca no melhor lugar que você consegue. E este
lugar é no fim de uma frase, porém ele não é o fim de uma história, nem mesmo
de um parágrafo. São apenas reticências
esperando que a história volte de onde parou...— Observou o olhar curioso de
Miguel. – ...está tudo bem para mim. Como eu já disse: prefiro os pontos
finais, mas fico feliz de não ficar sendo o seu “dois pontos”. É tão ruim se
explicar o tempo todo.
Os olhos de Steve, naquele seu azul-claro, logo começaram a
se intensificar num azul mais denso. Ele não queria demonstrar isso para
Miguel, ele não precisava vê-lo chorar. Voltou a sua cabeça para o peito do
garoto. Este que entendeu o sentimento contido em cada palavra e preferiu
guarda-las para si a dizer algo que não fosse o que Steve merecesse ouvir.
Miguel o amava muito mais do que conseguia pôr em palavras, e chegaria a hora
de dizer isso a ele, uma hora de pontos finais e não mais de reticências.
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Imagem: Favim.com