segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Sonho Inverso

Quantas horas são necessárias pra se fazer uma insônia?
Dois comprimidos, um copo d'água e a mente vazia de quem não vive e apenas sonha?
Num tempo atrás diria que isso é bobagem,
mais um comprimido descendo a garganta pra dormir com toda essa sua coragem.

Sair de casa não é mais usual, nem casual, muito menos legal.
É apenas, normal.
Alguns diriam que é o seu hobbie, sabe!?
Mas pra ele tudo isso não passa de uma fase, dois filmes, pipoca com sal
e mais um seriado ou o velho programa do Chaves.

Ele já foi da poesia ao chão e levantou-se duas vezes.
Mais um comprimido tomado, não sei se era pra tomar esse ou aquele. 

Isso tem alguma importância ou é apenas sobre tudo o que ele sente demais sem relevância?
Ele vai vomitar o que comeu mais tarde, dizer que está tudo bem.
"Calma, foi só uma ânsia!"
Foi, claro que foi, igual na infância quando escondia seus medos e respondia com arrogância.
Todo mundo um dia começa a enxergar, mas ele ainda continua cego na sua ignorância.

Quantas vezes é preciso repetir que dormir é pra quem tem tempo,
e não pra quem sonha que nem criança?
Você acha que uma casa se constrói sozinha e com ela vem a boa vizinhança?
Porque o que todos fazem é chorar num travesseiro,
Difícil mesmo é encarar um outro dia sem esperança.
Aí você vem e diz que não tem medo.
Claro, você tem é desdém, um peito fechado e muita desconfiança.

Se na vida pra ser samba a gente música, "sentimenta" e até poesia.
Diz pra mim o que te amargura o peito: É a turbulência ou a calmaria?
Se eu te cantar uma estrofe, com um sorriso você versaria?
Ou o meu tom desligaria?
Pior, será que com olhos fechados meu sentimento abaixaria?

Não sei pra quê versar se nunca é sobre gostar.
É sempre sobre duas bocas se beijando, um bom dia, e um deixa pra lá.

Mas vai me responde: Dormir é doença pra quem tem medo de acordar?
Ou a insônia na madrugada é aconchego pra quem nunca parou de sonhar?
Tantas perguntas e nenhuma resposta que possa te confortar.
Rimar num verso é fácil, quando tudo combina com ar.
Mas tente fazer isso sem folego, quando aprende a amar.
Dorme, acorda em um dia novo, e logo é só você e coisas a se lembrar.
Disseram que era saudade, e eu acreditei que até podia ser, sei lá.
Mas nessa hora eu fui mentira quando fingi que preferia ficar.

Eu não fui feito de sonhos, mas neles me coloquei.
Eu sou guerreiro de espada, sou dragão e até um Rei,
Mas nunca menor do que já sou,
Jamais me deixaria ser.
Eu sou bom mesmo, sou um gladiador,
Poeta, amante e um entardecer.
Sou um famoso astro, estrela, lua minguante.
Sou feito de aço, ouro, sou seu e sou diAMANTE.

E é assim mesmo, bem maiúsculo e maior que tudo.
Na madrugada você dança, enquanto viro pro lado e durmo.
O amor foi poesia com final em morte.
Hoje ele versa em melodia, amanhã talvez seja um dia de sorte.

Eu sempre fui de poeta a mentiroso em um segundo.
Acordado e meio dorminhoco falando sobre nada e tudo.
Agora você vem e diz que é bobagem, ladainha.
Sabendo que eu amo a verdade,
Mas minto quando a história é minha.

Desculpe-me, este é o ultimo verso
A canção acabou e já não sei mais sobre o resto.
O amor é uma grande história, com piso e teto.
Lembre-se de quem te escreve, é aquele mesmo cara sem nexo.
E pra encerrar mais uma noite, um vinho e bom sexo.
Pra curar uma insônia,
Somente eu, travesseiro e um monte de desafeto.

Eu jamais te pediria pra ficar,
Apenas continue por perto.

Dois comprimidos, um copo d'água,
Vista-se e deixe-me a sós vivendo este
Sonho Inverso.

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Sob a Luz, Nós e café

Mais um copo de café. A luz baixa deixa meus olhos cansados. Mas eu continuo aqui como um soldado da guarda real. Sem sorrir, sem chorar, apenas em guarda, marcando o meu posto diante de mais memórias sobre você, sobre mim, sobre nós.

Na minha estante estão as mesma chaves de sempre, as roupas dentro do armário continuam lá, tanto as minhas quanto as tuas. Abri-lo é um processo longo e demorado, pois cada traço do seu cheiro impregnou em outras peças, então tudo que tenho é o meu terno e gravata numa nova entrevista de emprego.

Por falar em gravatas, este nó tem ficado estranho. Perco mais tempo nele do que perdia antes. É tão simples o contorno, é só imaginar algo igual que está na minha garganta e então reproduzi-lo num pedaço de tecido fino. Nós, é tudo o que restou. Nós, o da gravata mal feito e aquele na minha garganta tão bem esculpido, somente estes.

Tenho escutado outros tipos de músicas, daquelas que combinam com café, papéis rasgados e outras coisas que não existiam quando você estava aqui. Hoje sou amigo de Clarice, Nando, Marias e outras poesias mais doces que contam nossa história em melodias suaves. Mas isso não é sua culpa, não pense assim, sei que isso é coisa nossa, mesmo sendo claro que isso é tão eu.

Mais um copo de café, a luz baixa deixa meus olhos cansados. E eu continuo aqui, naquele lugar que os pós amores se hospedam e aguardam até o a chuva passar, o sol reaparecer num arco-iris único e singelo entre as nuvens e o ar voltar a ser leve. Onde você me deixou.

Às vezes na madrugada eu conheço duas ou três pessoas, todos os dias. Elas se aproximam, a gente fala sobre quem somos, fingimos que nos apaixonamos um pelo outro, dizemos que a distância é a única culpada desses amores não darem certo. Aí meu café acaba, e logo é sobre nós novamente.

Um dia desses eu contei nossa história. E nunca pensei que em voz alta isso doeria mais do que um choro silencioso na madrugada. Músicas, luz baixa, alguns comprimidos para dormir e mais nada adianta quando o seu nome está tão exposto.

Você não foi uma história que criei, mas bem que poderia ter sido. Porém um espaço enorme que sobra na cama toda a noite, diz que eu estou tentando me enganar. Os olhos fechados, relembrando o ultimo "Eu te amo" que saiu dos meus lábios, quando você me respondeu com silêncio e foi embora. Você bem que poderia ser uma mentira feliz, pois a verdade triste tem doído demais.

Sei que o meu lugar é continuar onde tenho estado. Como sei que o amor tem dessas coisas de ir embora pra sentir saudade. Mas explica isso para um peito que grita toda noite, um carinho que não chega em hora alguma. Explica, olhando nos olhos dele, que ainda é sobre nós e não sobre algo que ficou para trás.

Eu queria ser só a sua história e ficar.
Mas eu continuo aqui,
Atrelado a estes nós na garganta que já não têm sido
Nós em  mais nenhum lugar.

Porem tudo o que resta é essa luz baixa
E um café insistindo em esfriar.

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