Como um G6

Talvez fosse o movimento de sua cintura. Ou então a forma como suas pernas se moviam lentamente. As mãos desenhavam o espaço no ar, o rosto era sério. E aquele olhar era um mistério e sobre este não me atreveria a falar.

Era como se fosse um G6.

Voando mais alto que qualquer outro ali, decolando sem escalas e sem medo da altitude. Fazendo com que sua pele queimasse e o coração pulsasse. Não soube quando, mas estava ciente que era a dona de toda aquela pista e ali queria voar.

Aquele Cara, barba serrada, cabelo para cima, louro. Ele era interessante demais para se preocupar em dizer oi para alguém. Mas precisava se aproximar dela, então o fez. Ela? Simplesmente continuou a dançar.

Seus longos e negros fios de cabelo agora dançam solto no espaço que a circunda. Ela não se contém nos movimentos, e ainda tem a audácia de tomar a sua bebida sugando pelo canudo, o que deixou todos a sua volta focado naqueles lábios. 

Um outro rapaz, aquele com a enorme tatuagem em seu braço definido. Os olhos de um azul petróleo que criavam a dúvida sobre seu tom. Caminhou lentamente ate ela. Ela sorriu sim, mas foi tudo que ofereceu a ele.

Caramba, quem é esta garota que dança sem parar? 

Essa era o tipo de questão que corria na mente de todos. Era impossível não manter o foco nela. Afinal só de estar ali já faria o favor de ser o centro de atenções.

Os seios eram desenhados em grande contraste sob sua camiseta. Esta que delineava cada curva de sua cintura, morrendo em um bom espaço antes de seu umbigo. A tatuagem em suas costas ficaram a mostra naquelas rendas do tecido. Os shorts curto mostrava todo o desenho de suas pernas. Ela era fascinante.

As pessoas em sua volta poderiam lhe fascinar. Até prender sua atenção. Mas de que isso adiantaria? Mais uma noite de amor, talvez duas, uma semana ou mais. No fim voltaria sozinha para aquele lugar, sendo desejada pelos mesmos olhares.

Amor é uma ruína. Uma enorme esfera rolando morro abaixo. 

Sensato aquele que sai de sua frente. Insano é aquele que o para no meio de seu percurso. Certo é aquele que se atira junto no seu caminho.


Ela não precisava de amor.

Precisava olhar a sua volta, e ver apenas luzes, tudo que queria era  ouvir as batidas rápidas das músicas. Sabia onde estava, com quem estava e o que estava fazendo. E nesse momento ela só tinha um sentimento e uma promessa para essa noite: Decolar.

Mais uma de amor

..sempre a abertura vem dos olhos, aqueles que serpenteiam entre os meus, pulam sobre o meu peito nu e correm para o chão desesperados para se esconderem. Nunca precisei dizer muita coisa nesta hora, nem ela precisava. Era só arrastá-los em minha direção, fazendo com que entendêssemos todo o resto.

-Eu te amo

"Quanta audácia de sua parte dizer tais palavras em meio a este momento."

Claro que isso foi o que pensei, e concordo com cada palavra. Ouvir o som fraco daquela voz sempre arrepiou todos os sinais de meu corpo. Mas dizer aquelas palavras sobre o meu colo enquanto cada pedaço de mim penetra sua carne, é uma grande trapaça.

Neste momento eu sabia que estava dentro dela, mas não do jeito que ela sibilava entre um gemido baixo e outro. Tinha-me em pele, no físico. Ela me tinha ali dentro naquele sexo, e somente ali eu era dela.

Existe algo com essa frase, algo que não faz bem para os meus ouvidos. É como enfiar o braço num triturador de cozinha e esperar que aquilo me faça feliz. Talvez se o manter desligado, no máximo, nada mudará. Mas aquela frase era como um botão "Ligar".

Vou mais afundo em meio a isso. Gosto de morder o seu pescoço enquanto ela tenta se livrar de meus lábios. Gosto também da forma como sua cintura se move quando seguro firme com as duas mãos envolta da mesma. Gosto dos seus sussurros baixos e lentos, que se intensificam durante nossa dança.

Eu amo o jeito que ela deixa o cabelo sobre o rosto, mostrando aquelas mexas úmidas devido ao suor que escorre de sua pele. Amo a forma que suas unhas deslizam em minha pele sucedendo aquele gozo. Eu amo, mais que tudo, o jeito que seu sorriso corre de lado quando digo que preciso tomar um banho (tenho a mania de fazer isso com os lábios próximos ao seu ouvido, a pele dela estremesse nesta hora).

Eu gosto de muitas coisas dela, amo muitas coisas nela. Mas enquanto a ela... bem, ela é alguém que eu gosto de estar. 

Sei que quando ela se levantar e sair com a minha camiseta do quarto, eu responderei as mensagens que estão gritando ali em meu celular. Existem outras garotas, e gosto delas também, mas nenhuma mexe comigo como esta.

Porém aí vem o grande erro: Ela espera um salvador. Alguém que a arraste desse quarto escuro e a traga para junto da luz. Eu não posso ser esse tipo de cara, nem me salvar eu posso neste momento. 

Ela tinha tudo para um dia ser a garota que eu levaria para um passeio num lugar onde nunca tive ninguém para levar. Ela poderia ser uma espécie de Dama enquanto, em meio a uma noite com lua cheia, beijaria seu Vagabundo.

Mas coitada dessa garota, ela acha que pode me amar assim? Quando nem ao menos entendeu a minha paixão? 

Ela errou em cada sílaba dessa frase quando pensou ser o momento certo. Eu a amaria todos os dias de minha vida, hoje mesmo faria isso.

Largar tudo o que plantei. Toda a carne que posso consumir. Isso seria até fácil. Porém eu não posso ser asas ainda, não enquanto os meus pés pedirem por chão. Eu juro que queria voar, ela seria o par de asas perfeito, mas não nesta hora.

Eu a abraçaria agora, beijaria os seus olhos fechados. Enquanto contasse a ela toda a estratégia de vôo. Mas ela não soube dançar, nem soube me levar. E a parte que mais me dói é que infelizmente, ela nem sabe o que é amar..