segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Diferente Igual


Pensei que seria diferente. Não quando cheguei e mal nos cumprimentamos com o olhar. Talvez tenha começado a pensar quando os assuntos começaram a surgir na ponta da língua e desenrolar a cada segundo que se passava, preenchendo o espaço de tempo e a vaga que a distância entre os nossos “desconhecidos” diminuíam. 

Mais próximos, talvez ainda um pouco distante o suficiente para o toque parecer só uma promessa deliciosa de coisas que poderiam acontecer mas deveriam ter calma. As mãos tentaram preencher o espaço que ainda restava entre nós dois, e pouco a pouco nossos dedos se chocavam no meio desta confusão. Ali estava quase certo que as coisas seriam diferentes.

Sua cabeça correu aquele ultimo pedaço de espaço entre nós, logo meu colo conheceu o toque dela, e ela pode sentir como meus dedos sabiam dançar entre os fios de seu cabelo. Claro que tudo era muito estranho, um pouco menos desconhecidos agora, mas ainda um novato para o outro, porém alguma coisa soava diferente demais. Eu não quis apenas sua pele, mas quando te toquei senti que deveria tê-la pra mim.

No beijo as coisas perderam toda a razão. Achei que seria diferente, não por eles, mas pelo sorriso torto com dentes tão brilhantes que você me ofereceu ao término do segundo ou terceiro beijo. Pra mim isso já era mais que suficiente de diferença de qualquer outra coisas, mas se me conhecesse bem, saberia que eu sempre quero um pouco mais daquilo.

Então tive certeza que seria diferente, pela manhã. Quando o seus braços apertavam minha cintura sob os meus que lhe apertavam por completo. Você insistiu que eu deveria ficar, não sair dali, que nada importava. Disse que tudo aquilo era bom demais para fazer algum sentido, e que razão era uma grande baboseira de gente que não tem cor nesse arco-íris que pintamos diariamente sobre a vida.

E durante o dia pra mim foi diferente. Durante cada mensagem, cada imposição de “eu quero você mais esse dia, e no outro que vem após”. Eu tive certeza que a mensagem sobre ser chato ter que esperar para estar comigo, era mais que real. Porque tudo aquilo me pareceu tão diferente, tão fugaz e visceral.

Hoje quando abri os olhos pela manhã, e aquele castanho pousou sobre os meus dizendo para sorrir com eles. Eu tive certeza que seria diferente. Estava convicto que seria muito mais que isso. Seu sorriso, abraço e beijo que nunca senti. Estava mais que certo.

E você seria história, seria um ponto de partida e uma chegada. Você se transformaria em coisas que nunca mais contei pra ninguém. Teria o meu colo como abrigo e meu abraço pra te proteger. Na verdade, você seria a minha razão para acreditar que pertenço a isso aqui, e nenhum lugar importaria mais.

Agora você é papel e letras.

E isso é tão comum pra mim.

Você um diferente tão igual a todos os outros.
E eu um bobo igual tão diferente de todos os uns.

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Escritor Idiota


Duas, três ou quatro xícaras de café, e ele ainda está lá. Escrevendo e escrevendo sobre as coisas que eu morro de vontade de perguntar o que são.

Ele vai mentir, e vai dizer que não tem nada a ver com nós dois, mas eu sei que não é verdade. Se eu sair daqui agora, e tirar minha camiseta, logo o personagem estará seminu na história. É quase como um profeta escrevendo uma passagem sobre nós. Mas nessa história, ninguém é santo.

Sei a forma certa de conseguir sua atenção, e gosto dela. Implica em ir lá, sentar-se em seu colo, fechar aquela merda de notebook, e beijá-lo até que perca a respiração. Foi o que eu fiz há algumas horas atrás, e ele me amou tão loucamente que eu continuo nessa cama sem ter forças pra me levantar. Já ele prefere escrever, diz que essa coisa comigo costuma fazer a tinta da caneta desenhar melhor o contorno das palavras. Ele nem está usando uma caneta, idiota.

Eu o amo, e essa coisa é tão louca, que eu nem faço ideia do porquê. Se eu disser isso em voz alta, ele vai vir com outro poema sobre os detalhes, o amor não ter explicação, sorrisos, olhos e beijos intermináveis. Eu já sei isso tudo, na verdade estou de saco cheio dessa história. Larga essas merdas aí e deita aqui comigo, preciso de você agora. Sou egoísta e quero você aqui e, somente, aqui.

Eu gosto de vê-lo assim. Isso é a mais pura verdade. Sem camiseta, usando aquela samba canção que não tem nada de sexy. As costas largas se movimentando bem devagar, enquanto os dedos insistem em digitar freneticamente. Em alguns momentos ele para, respira mais fundo, olha para mim com aqueles olhos azuis, sorri e pergunta com aquela voz doce que me irrita tanto: “O que você tá olhando?”. Eu rio.

Ele diz que é a forma de conseguir inspiração, olhar a sua volta e ver o que lhe impressiona. Não que eu seja a melhor de todas as escolhas, mas é assim que me sinto quando ele volta a digitar dizendo bem alto que me ama, mesmo sem eu ter feito nada.

Agora lá vem ele, daquele jeito de sempre. Olhos cansados, xícara vazia e o sorriso satisfeito no rosto. Não dá pra entender isso de forma alguma. Como alguém goza e se dá ao luxo de escrever que ama fazer isso com aquela pessoa que está na sua cama esperando pelo seu carinho? Não é uma reclamação, é uma dúvida na verdade. Nos conhecemos assim, e isso sempre foi um mistério para mim. O gozo e a escrita.

Tem algo no nosso “ser romântico” que deixa tudo um pouco mais apimentado na história. Eu gosto de não me importar quando estou por cima, assim como ele gosta de manter o comando mesmo estando por baixo. Nossa história de amor sempre começa sem as roupas e termina com o sorriso vestindo nossa pele. Sexo é a maneira mais gostosa de se viver amor.

“Demorei muito?”

Pergunta idiota, claro que demorou. Estou a vários minutos nessa cama, fingindo ler algo, ver tv, ouvir música. Fingindo não me importar com ficar um pouco que seja longe de ti. E eu sei que você precisa contar a nossa história, que alguém precisa ler e saber que os passos são perfeitos quando feito por nós dois. Mas precisa disso agora? Precisa mesmo me deixar aqui nesse minuto? Tira essa samba canção e volte pra cá.

Nessa hora eu quero mantê-lo mais próximo de mim. Aquele sorriso torto que é meu. Aquele jeito com os olhos azuis me sondando. Gosto quando a mão corre por cada parte do meu corpo e insiste em procurar o que falta ali, porque parece que existe saudade demais pra quem ficou dez minutos distante.

Saudade demais para quem ficou três dias, duas semanas e agora alguns meses ou anos.

Ele sempre foi um escritor idiota. Contando e descontando tudo sobre o que vivemos. Fingindo e "desfingido" ser sobre nós ou não. Eu não vou desligar o telefone nessa noite, nem vou dizer que não sinto a sua falta. Hoje não vou dizer ao mundo que você foi só um alguém sem camiseta e uma samba canção ridícula que prefere o teclado a continuar na nossa cama.

Volte a escrever, já acabamos aqui.


Duas, três ou quatro xícaras de café. E eu ainda estou aqui, escrevendo e escrevendo sobre a falta de você...

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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Um dia Ruim

Desligou o celular. Sabia que ele ia ligar novamente e que, se atendesse, acabariam brigando. E isso não era justo. Aquele dia ruim era coisa dela, somente ela merecia passar por ele. Nada de colocar os pesos nas costas de Marcos, ele não precisava desse mal humor todo.

Mas Bia tinha mesmo esse problema. Ela amava estar com ele nas horas que estava feliz e podia fazê-lo rir. Mas quando se tratava de dias como este (que raramente aconteciam) ela preferia não fazer nada, ligar o som mais alto que podia e ficar sozinha em seu apartamento.

Sempre via sua vida como se tivesse um dever para com o próximo, ainda mais aqueles que eram importante para ela. Gostava de ser lembrada como a garota que tira risos fáceis e faz piadas bobas, ninguém precisava de mais uma mal humorada, viciada em café que odeia animações. A vida passa rápido demais pra ficar reclamando do garçom que serviu pela direita quando a etiqueta pede que seja pela esquerda (ou o contrário, não importa).

Viver assim era mais gostoso, porém (em dias como este) mais dolorido também. Tudo costuma ser tão intenso, tão puro e inovador que ela se perde em meio disso. Não sabia como Marcos conseguia viver e amar tudo isso nela, mas ele fazia com maior prazer. Por isso havia um dever de não magoa-lo.

Resolveu dormir. Eram dez horas, cedo demais pra quem costuma ler até as duas da manhã. Mas queria terminar logo esse dia.

Marcos estava irritado, não bravo, apenas irritado. Ele teve um bom dia, na verdade um dia comum, mas como não teve nada negativo, poderia dizer que foi um bom dia. Exceto pela parte da sua garota, aquela mulher que ele não sabia mais como aguentava ficar longe, estar tendo um dia oposto do dele.

Ela nunca dizia as coisas ruins que a afligia, porém, quando fazia, desabava no colo dele. E ele amava estar lá por ela. Mas hoje, ela decidiu ficar sozinha. Ele até respeitou a vontade dela. Respeitou até o momento que seu carro estava dentro da garagem do apartamento dela e ele tomando o elevador até lá.

Ouviu um barulho na porta. Caramba, mais essa?!
Bia não sabia o que fazer, estava sozinha, morava sozinha. E alguém estava entrando em seu apartamento. O celular na mão e o primeiro número que estava lá foi o que chamou: Marcos.

– Merda de coisa barulhenta.

Assustou-se com a campainha do seu telefone. E logo percebera que ela estava alta demais para que Bia não percebesse. E esta percebeu.

– O que você está fazendo aqui?
– Vim cuidar de você.

Caramba, ela queria xinga-lo, dizer que quase morreu de medo pensando em um invasor na madrugada. Mas não estava muito afim de conversar. Viu o relógio, uma da manhã, Marcos era um louco.

 Não adianta brigar comigo, ok? Eu tive um dia muito bom, se é que você quer saber. Mas não me adianta dias bons, se eu não posso te ver sorrir.
 Sim.  Não sabia o que dizer.
 Eu te amo, Bia. E não aguento mais isso tudo!

Ela já não estava mais entendendo nada. Ele nem era o motivo do dia ruim. Talvez ela tivesse feito ele achar isso, e agora se sentia culpada por aquilo.

 Marcos, você não...
 Espera, deixe-me terminar. Ensaiei demais pra ser interrompido.

Ela olhou assustada.

 Continuando. Eu sei que haverá dias ruins, nos quais você não vai querer dizer, as vezes nem demonstrar. Mas eu quero estar lá. Quero ser o seu colo nesta hora.

Foi para mais perto dela, segurando suas mãos.

 O que estou tentando dizer é: Eu sei que está tarde, e agora já é outro dia. Ontem você teve um dia tão ruim, que não me quis nele, tudo bem! Mas a partir de hoje eu não posso deixar isso acontecer. Eu quero você, me casar com você.

 Você está.. Tipo mesmo, de verdade? Você está...?

Ele tirou aquele anel do bolso e colocou no dedo dela.

 Você quer se casar comigo?

Bia era o tipo de garota que vivia de sorrisos. Não gostava de dias ruins e tinha medo de machucar alguém com eles. Marcos era o tipo de cara que amava essa garota, e sem que ela percebesse o motivo, ele sabia que a vida havia lhe dado o melhor presente quando a conheceu.

Houve um dia ruim sim. Houve problemas no emprego, um trânsito parado, a briga com uma amiga, o telefone desligado pra não magoar o namorado. Tudo isso aconteceu. Porém antes de amanhecer o outro dia, a vida lhe disse que ela tinha o dever de ser feliz, agora Bia lembrava bem disso.

 Sim, é tudo o que mais quero.

Então ela sorriu, e o dia ruim se desfez de seu calendário.

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