quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Desculpe o transtorno, preciso falar sobre o fim


Já faz mais de vinte minutos que esse título está preso aí, e eu continuo preso no primeiro parágrafo sobre como as coisas acabam. É muito fácil contar sobre o primeiro olhar, a empolgação da primeira conversa quando tínhamos tanto em comum e tanta certeza das dúvidas que haviam implantado no nosso peito. Já faz mais de um ano que este sentimento está preso aqui.

Sabe quando você decide não contar pra ninguém sobre o "nós"? E deixa as pessoas acreditando que, realmente, uma coisa muito ruim aconteceu para que as coisas acabassem dessa forma... 

..desculpe, algo nos meus olhos atrapalham a digitação, assim como algo nos meus dias têm atrapalhado o acordar, o trabalhar o se relacionar com as pessoas que se preocupam comigo.

Um dia eu contei para todo mundo a forma como nos conhecemos. Eramos dois perdidos, eu costumava falar demais, você ria de mim e, por vezes, levantava mais cedo que eu só pra dançar diante dos meus olhos para que o mal humor não tivesse vez naquele dia. Você era um sonho muito melhorado do que um dia já consegui produzir na mente sobre o que me faria feliz.

Eu fazia vídeos na internet sobre amor. Eu escrevia sobre sentimentos todos os dias, você gostava disso. Eu lia tantos livros que por vezes nem sabia se o personagem tinha morrido ali ou viajado pra outra cidade. Eu gostava de desenhos animados, chocolate e cinema. Tinha tantos amigos que não conseguia contar nos dedos. 

Hoje eu não gosto de tanta coisa, e não sei nada sobre as que eu gosto. Eu já não escrevo como antes, os vídeos deixaram de ser sobre amor, sobre mim, sobre coisas, são só videos. Eu gosto ainda mais de desenhos animados, ainda gosto de cinema, só que nunca mais li livro nenhum. Salve os quadrinhos que acabaram se tornando uma nova paixão.

Agora eu escuto aquele velho rap sobre amor, sobre alguém que foi embora. Nunca fui do cigarro, mas fumaria centenas dele se isso afastasse os pensamentos. Eu queimaria cada parte que me incomoda, e sugaria cada dor numa tragada como se toda felicidade dependesse disso.

E sei que não tem muito sentido o que eu disse até agora, e é sobre isso que eu quero falar. Sobre as coisas que não fazem o menor sentido. Entre tantas dela está você, eu, os sorrisos e o fim.

Já faz mais de uma semana que estou enrolando pra assumir pra mim mesmo que acabou. Quando eu disse que era o fim, também não acreditei naquilo. Mas quando ouvi da sua boca, alguma coisa começou a passar pela minha cabeça. Fim não são só três letras de uma palavra. Fim é saudade, é o fracasso, é a mudança, é o emprego que eu troco a cada dia. 

Desculpe o transtorno, eu precisava falar sobre nós. Mas descobri que não sei mais escrever, porque talvez não saiba como é essa coisa de amar alguém o suficiente pra acreditar cegamente que tudo vai ficar bem.

Hoje não consigo mais ficar sozinho sem sentir um aperto no peito. Quando estou no computador, falta um rostinho atrapalhando minha tela, enquanto eu ficava mudando a janela do skype de lugar. Hoje eu tenho esquecido como é sua voz, tenho sentido medo de ter cometido um erro, e tenho lutado cada vez mais pra ser ainda melhor do que o cara que você conheceu.

...Paro, respiro, volto a escrever.

Eu estou diferente o suficiente pra saber que nada pode ser como era antes. E, infelizmente, o "nós" faz parte do pacote de algo que um dia foi bom o suficiente para nunca se tornar só uma lembrança. 

Já faz um tempo que eu queria ser o que eu sempre fui. Mas agora estou preso no que me tornei depois de você. Desculpe o transtorno, eu queria ter acreditado mais em nós.

Mas eu costumo ser melhor sozinho, mesmo sendo bom demais quando estou com você.


..não tento ser o que quero, simplesmente sou o que sou.

imagem: Favim.com

Marcadores: , ,