quarta-feira, 6 de abril de 2016

Ela se foi, mas continua lá



Como a mais fina seda, ela escorrega sobre sua pele, deslizando cada centímetro com um toque suave e a maciez de algo formado pela mais nobre matéria-prima. Este a desenhou para essa noite, e agora ela se tatua nesse outro corpo com delicadeza e fugacidade. 

Uma música no rádio, misturada aos gemidos e sussurros daquele momento.

Lábios se tocam, se perdem. O dente encontra a pele, rasgando-a e se alimentando de todo seu arrepio. Um frio tão quente sobre sua espinha, apertando-a na nuca e morrendo em sua virilha. Era como mergulhar dentro da lava de um vulcão, logo em seguida resfriar-se numa calota polar. Quente e frio, convulsionando seu peito. Lava, gelo, respiração e suor.

Ele rola entre os lençóis, procura abrigo em uma distância segura. Os olhos devoram, o cheiro impregnado na pele consome os sentidos. Ela continua lá, pele nua, seios a mostra e sua ingenuidade jogada ao chão. Foi despida e agora se encontra entre as roupas numa bagunça por todo o quarto. Só veste a pele, e a promiscuidade que os olhos dele temem. 

Serpentes não se movem tão rápido entre areias do deserto, nem seduzem com tanta destreza sua presa desprovida de vontades que a guie numa fuga. Ela é dona de tudo dentro daquele quarto. Os sorrisos lhe pertencem, o suor também, a cor daqueles olhos presos aos teus, o odor do calor sufocante saindo a cada tragada de um cigarro invisível que queima na outra língua.




Pele nua, um banho gelado.
Água acentua todo o toque de uma seda, serpente, suor e promiscuidade.

O telefone está mudo, o barulho no quarto é só sobre silêncio.

A cama é enorme como nunca foi antes. Serpentes não se movem tão rápido entre areias do deserto, nem seduzem com tanta destreza. Sozinho, ele continua a rolar entre os lençóis, sua pele queima diante da forma que ela o conduz. Dia após dia, enquanto ninguém bate a porta. Ele sabe, ela se foi.

E ainda é como se ela estivesse lá...


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