segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Um dia Ruim

Desligou o celular. Sabia que ele ia ligar novamente e que, se atendesse, acabariam brigando. E isso não era justo. Aquele dia ruim era coisa dela, somente ela merecia passar por ele. Nada de colocar os pesos nas costas de Marcos, ele não precisava desse mal humor todo.

Mas Bia tinha mesmo esse problema. Ela amava estar com ele nas horas que estava feliz e podia fazê-lo rir. Mas quando se tratava de dias como este (que raramente aconteciam) ela preferia não fazer nada, ligar o som mais alto que podia e ficar sozinha em seu apartamento.

Sempre via sua vida como se tivesse um dever para com o próximo, ainda mais aqueles que eram importante para ela. Gostava de ser lembrada como a garota que tira risos fáceis e faz piadas bobas, ninguém precisava de mais uma mal humorada, viciada em café que odeia animações. A vida passa rápido demais pra ficar reclamando do garçom que serviu pela direita quando a etiqueta pede que seja pela esquerda (ou o contrário, não importa).

Viver assim era mais gostoso, porém (em dias como este) mais dolorido também. Tudo costuma ser tão intenso, tão puro e inovador que ela se perde em meio disso. Não sabia como Marcos conseguia viver e amar tudo isso nela, mas ele fazia com maior prazer. Por isso havia um dever de não magoa-lo.

Resolveu dormir. Eram dez horas, cedo demais pra quem costuma ler até as duas da manhã. Mas queria terminar logo esse dia.

Marcos estava irritado, não bravo, apenas irritado. Ele teve um bom dia, na verdade um dia comum, mas como não teve nada negativo, poderia dizer que foi um bom dia. Exceto pela parte da sua garota, aquela mulher que ele não sabia mais como aguentava ficar longe, estar tendo um dia oposto do dele.

Ela nunca dizia as coisas ruins que a afligia, porém, quando fazia, desabava no colo dele. E ele amava estar lá por ela. Mas hoje, ela decidiu ficar sozinha. Ele até respeitou a vontade dela. Respeitou até o momento que seu carro estava dentro da garagem do apartamento dela e ele tomando o elevador até lá.

Ouviu um barulho na porta. Caramba, mais essa?!
Bia não sabia o que fazer, estava sozinha, morava sozinha. E alguém estava entrando em seu apartamento. O celular na mão e o primeiro número que estava lá foi o que chamou: Marcos.

– Merda de coisa barulhenta.

Assustou-se com a campainha do seu telefone. E logo percebera que ela estava alta demais para que Bia não percebesse. E esta percebeu.

– O que você está fazendo aqui?
– Vim cuidar de você.

Caramba, ela queria xinga-lo, dizer que quase morreu de medo pensando em um invasor na madrugada. Mas não estava muito afim de conversar. Viu o relógio, uma da manhã, Marcos era um louco.

 Não adianta brigar comigo, ok? Eu tive um dia muito bom, se é que você quer saber. Mas não me adianta dias bons, se eu não posso te ver sorrir.
 Sim.  Não sabia o que dizer.
 Eu te amo, Bia. E não aguento mais isso tudo!

Ela já não estava mais entendendo nada. Ele nem era o motivo do dia ruim. Talvez ela tivesse feito ele achar isso, e agora se sentia culpada por aquilo.

 Marcos, você não...
 Espera, deixe-me terminar. Ensaiei demais pra ser interrompido.

Ela olhou assustada.

 Continuando. Eu sei que haverá dias ruins, nos quais você não vai querer dizer, as vezes nem demonstrar. Mas eu quero estar lá. Quero ser o seu colo nesta hora.

Foi para mais perto dela, segurando suas mãos.

 O que estou tentando dizer é: Eu sei que está tarde, e agora já é outro dia. Ontem você teve um dia tão ruim, que não me quis nele, tudo bem! Mas a partir de hoje eu não posso deixar isso acontecer. Eu quero você, me casar com você.

 Você está.. Tipo mesmo, de verdade? Você está...?

Ele tirou aquele anel do bolso e colocou no dedo dela.

 Você quer se casar comigo?

Bia era o tipo de garota que vivia de sorrisos. Não gostava de dias ruins e tinha medo de machucar alguém com eles. Marcos era o tipo de cara que amava essa garota, e sem que ela percebesse o motivo, ele sabia que a vida havia lhe dado o melhor presente quando a conheceu.

Houve um dia ruim sim. Houve problemas no emprego, um trânsito parado, a briga com uma amiga, o telefone desligado pra não magoar o namorado. Tudo isso aconteceu. Porém antes de amanhecer o outro dia, a vida lhe disse que ela tinha o dever de ser feliz, agora Bia lembrava bem disso.

 Sim, é tudo o que mais quero.

Então ela sorriu, e o dia ruim se desfez de seu calendário.

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