quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Sem Vergonha

Eles chegaram em meio a tanta gente e nem se importaram com quem eram essas pessoas. Pra ser sincero, acho que os olhos deles estavam cansados de ter que ficar um longe do outro por tanto tempo (mesmo esse tempo ter sido apenas o caminho até aquele ponto) e agora desejavam um ao outro descansar.


Ele é mais alto que ela. Já ela tem um cabelo comprido e negro que é bem maior que o dele. Ele tem os olhos castanhos, os dela são azuis. Mas o sorriso é quase o mesmo, só que o dela pertence a ele e o dele pertence a ela. 

Não pude acreditar quando ele disse algo no ouvido dela, e esta, ao invés de se comportar, riu mais alto do que deveria. Deixando os outros sem jeito com a situação. Sei que não somos importantes aqui, mas seria legal se vocês não despertassem nossas curiosidades sobre o que era tão engraçado.

Ela encostou a cabeça no peito dele. E ele, bem mais alto que ela, fez como um pássaro que protege o seu ninho com quatro recém nascidos dentro. Os braços estavam envoltos sobre ela, enquanto uma das mãos acariciava aqueles longos e negros cabelos. Ela o abraça na altura da cintura, tão pequenina.

Sabe, é meio chato toda essa situação. Tenho certeza que as pessoas todas queriam gritar ali comigo "vão para um quarto". E então se livrar de ver toda essa troca de carinho depois de um longo dia cansativo e sem muita esperança pra nada.

As pessoas com vidas normais como a minha, acordam as sete da manhã, tomam um café com qualquer coisa que esteja na frente (Dia de luxo é quando existe geléia pra torrada), colocam os seus uniformes e vão trabalhar. Passam o dia se preocupando com coisas que não são importantes e erram coisas que são. Aí ao termino do dia, só querem ir pra casa e descansar. Em nenhum momento essa rotina envolve sorrir no abraço de alguém.

A garota se mexeu, acho que começou a chover e ela sentiu uma gota em sua pele. Ele a prendeu mais ainda perto de si. E, acreditem se quiser, eles sorriram daquilo. E antes que eu pudesse virar o meu rosto para o outro lado, eu tive certeza que eles se beijariam. Isso deixaria todos bem sem jeito, eles não se importam.

A chuva ficou mais forte. Alguns passam rápido pela rua. Outros trocam mensagens pelo celular. Aquele casal se beija. E eu, bem, continuo sentindo que todos estão incomodados com aquilo tudo. Mas a verdade é que ninguém está, na verdade ninguém se deu conta disso desde que eles chegaram. Apenas eu.

Fiquei me perguntando o quanto aquilo poderia ser um incomodo a alguém. E bolei todos os planos possíveis para que minhas teorias dessem certo. Mas a chuva estava ficando mais fria ainda, e não pude manter o foco em todo o resto. Casal sem vergonha, era isso que pensava. Droga, que merda de casal sem vergonha!!

Claro que eram sem vergonha. Não havia direito de fazerem isso, estava fora da rotina de qualquer pessoa normal ser feliz fora do dia de ser feliz, e aquilo era um afronte a todos que respeitavam as regras. E gosto das coisas corretas, eu tinha que dizer algo, aquilo não estava certo.

E ela sorriu. E ele sorriu de volta.

Droga, que merda é essa que não consigo entender.

Eles chegaram no meio de tanta gente e nem se importaram com quem eram essas pessoas. Aí notei que as pessoas também não se importaram com quem eles eram. Mas eles eram felizes, e aquilo parecia injusto para alguns.

Abri um meio sorriso e depois pude compreender. Que talvez eles não sejam como as pessoas normais, e talvez gostem de ser assim tão ser vergonha. E, por mais engraçado que isso seja, eles não se importam com ninguém, mesmo tendo um alguém se importando com quem eles são.

Eu sou só um cara fazendo careta do lado desses dois. E eles apenas sorriem um para o outro.

Maldito, Invejoso sem vergonha.

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2 Comentários:

Às 7 de janeiro de 2015 às 12:36 , Blogger Unknown disse...

Adorei! As vezes mesmo sem perceber, a felicidade dos outros incomoda... Quando percebe-se que não estamos sendo felizes, uma pessoa sorrindo espontaneamente pode incomodar! Por isso fico feliz em tentar ser feliz sem data e hora marcada!

 
Às 4 de fevereiro de 2015 às 20:30 , Blogger Unknown disse...

Excelente!!! Sabe, acho que me senti meio que a garota citada, porém sem os olhos azuis. Vergonha de ser feliz? De aproveitar ao máximo cada momento? Ahhhhh, eu digo SIM!!! Parabéns, belo texto!!!

--- www.gabrielapanhone.com ---

 

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