Gostar de Alguém

Antes de começar a falar sobre o que vim tratar aqui hoje, queria esclarecer algumas coisas. A primeira é que não importa o que eu sinta, o que eu escrever sempre será sobre dúvidas que minha cabeça cria para afrontar o que bate no peito. Em segundo lugar, eu sei que nada disso aqui pode resolver alguma coisa, mas como tantas outras, eu não busco respostas, e sim tento criar as questões certas.

Eu não sei o que significa esse tal de “gostar de alguém”. Essa é a questão do momento. É como se isso fosse uma simples frase que perde o sentido quando é transformada em pergunta. Claro que eu sei que não é coisa complicada demais pra entender, mas eu não consigo trabalhar com o termo, aí me enrosco e perco o sentido. 

Gostar de alguém pra mim, um dia (não muito longe desse) foi simplesmente o fato de duas pessoas dizerem sim e quererem fazer daquilo a coisa dos dois. Era como se segurar a mão de alguém fosse leve, e agora é mais pesado do que tentar levantar um caminhão. Antes gostar de alguém tinha a ver com as músicas que ouvíamos, os lugares que íamos e as coisas que fazíamos. Agora já não sei se isso é o mais importante.

Hoje em dia penso bem diferente. Até porque não sei se essa frase faz sentido. Hoje o tal “gostar de alguém” parece um pedaço de joia preso a língua de uma ostra perdida bem ao fundo do mar. Metáforas a parte, essa coisa tem a ver com delicadeza, beleza e um nível de dificuldade que ninguém está disposto a enfrentar. Pelo menos não com um turbilhão de bagagens do passado em suas costas.

E não estou falando de um “acho ela legal, gosto dela”, estou falando de mais intensidade aqui, seria mais algo do tipo “gosto demais dela e nem sei o porquê”. Entendem?

Acho que consegui chegar ao ponto onde queria. O tal do gostar sem entender o porquê. Aquela coisa de saber que tudo significa muito para os dois, mas não saberem explicar a causa disso. E tem sim a ver com coisas que gosta de ouvir, lugares onde ir e coisas a se fazer. Mas isso não significar que precisam ser coisas iguais, apenas demonstra que com a pessoa que permite o “gostar” fluir, as coisas diferentes se tornam interessantes.

Aí chego a parte onde perco todo o sentido. Se gostamos de alguém porque este tem os mesmo costumes que a gente e gosta das nossas coisas como são. Quando que vamos nos interessar por alguém que torna o diferente tão mais gostoso de vivenciar? Sabe, não tem coerência alguma em tudo isso.

Vamos ser um pouco mais profundo, falemos agora sobre o se apaixonar.

Não que isso seja uma coisa de toda ruim, mas acho que tenho odiado essa coisa de se apaixonar. Pelo fato de não conseguir raciocinar direito no meio disso. Tudo ser fogo e fogo e não ser calmaria. Apaixonar-se te torna um tolo sem nexo e um bobo sem muita racionalidade. Eu sempre amei essa coisa de se apaixonar, mas seria incrível isso não acontecer mais, ou melhor, acontecer uma última vez e fim.

Apaixonar-se significar que você passou do nível “acho ela legal, gosto dela” e chegou ao nível “gosto demais dela e não sei o porquê”. É o nível mais perigoso da coisa. É onde tudo parece ser o grande conto de fadas escrito para vocês. Ondem músicas fazem mais sentidos, filmes de romance se tornam mais interessantes e qualquer coisa que envolva amor seja seu foco. Muito cuidado aqui.

Porque o se apaixonar é o tesão do momento, mas o amor é o gozo. Então não confunda os dois. Um vem antes do outro, um esquenta, arranha, rasga e morde a pele arrepiada enquanto o outro é o sussurro mais forte, os dedos deslizando delicadamente sobre essa mesma pele e os lábios desenhando formas sobre todo o rosto do outro.

Então quando se apaixonar, tenha a calma de não dizer tudo sobre você. Nem de doar toda a sua história para o outro. Ainda não é hora disso, nem daquilo que parece bobo. Paixão é apenas paixão, é uma delícia de sentir, mas ainda não é o final daquilo. Digamos que é o começo apenas, e nada mais que isso.

Como eu já lhe disse antes, eu não sei o que significa esse tal “gostar de alguém”. Na verdade nem sei se quero saber. Já vivi alguns sentimentos que me trouxeram onde estou hoje, e a viagem foi cansativa. Eu diria, que foi a melhor viagem que fiz até agora. Mas se apaixonar é inevitável, basta ser um pouco do tudo que eu sonhei pra mim que pronto, apaixonei.

Não que eu queira que algo faça sentido, nem que eu queira entender perfeitamente como o “gostar de alguém” acontece. Mas nossa, saber onde é o ponto de partida já seria muito importante. Ninguém precisa saber toda a coreografia da música para ser divertido, mas o refrão é importante dançar. Entende?

Então, por fim, cheguemos a uma conclusão sobre a tal questão que eu não sabia como fazer. Gostar de alguém é bom, é confuso e não tem muito sentido. Apaixonar-se significa ser um idiota e não te ciência disso. Amor é gozo, não tesão. Gostar é sobre o que gostamos de ouvir, onde ir e o que fazer, também é beleza, delicadeza e dificuldade. Quem tem um passado, sofre demais para não destruir seu presente, mas se esquece que sem ele nunca terá um futuro.

Gostar de alguém não passa de um termo que torna tudo confuso quando é transformado em questão. Mas pode vir a ser um grande aliado quando vira apenas uma simples afirmativa. Não tenho muita coisa para pergunta sobre tudo isso. Mas adoraria saber algumas respostas. Mas sei que quando existem respostas, o “gostar” ganha lógica. E nada que tem lógica merece ser sentimento, é apenas consentimento.

Mas e aí, vamos ser menos racionais e decidir com o primeiro nome que surgir.

Você gosta de alguém?

Sendo sorriso ou lágrima você sabe que tem uma resposta, e eu sei que tenho as questões que preciso. Porque isso tudo é muito confuso, mas é uma delícia do começo ao fim.