Cigarro
Preso
num pacote fechado, deviam haver mais uns oito ou nove como eu. Estava
apertado lá dentro, e costumo ter claustrofobia quando está escuro
demais. Então fiquei agradecido quando ela me pegou entre os seus dedos.
Eu nem sei que horas eram. Talvez fosse o almoço, o fim de tarde ou qualquer outra hora menos afortunada de magia e mistério, pois eu achei que meu fim cairia bem mesmo após uma noite de bom sexo, mas não posso determinar nada aqui.
Aos poucos senti a chama se aproximar e logo estava sobre minha pele, queimando lentamente e um pouco mais rápido conforme aquela boca, que mantinha um batom vermelho, suavemente me tragava.
A nicotina é a parte que mais queima dentro de mim, sei também que é o que ela mais espera quando me coloca naquela posição entre seus lábios. É como se aquilo fosse fazer todas as coisas pararem de correr e, lentamente, explicar o que estávamos fazendo ali.
Uma tragada, o fogo ardia forte.
A chama queimava cada vez mais o meu corpo. E junto dela um sentimento pulsava no peito daquela que me tragava. Insistentemente, cada vez mais devagar e suave como um beijo de despedida.
Antes, pensei eu, era só mais um momento não afortunado de magia e sedução. Mas agora eu percebia que estava no melhor entre todos eles. Como se estivesse em um trono real sobre todos os outros cigarros daquela caixa. Eu era o rei, e estava na realeza entre os sentimentos dela.
Mais uma tragada, outra lágrima escorria.
Ele foi embora e a deixou ali. Só podia ser esse o sentido daquela forma como ela me beijava. O fogo ardia em mim, mas queimava tão devagar que eu podia ver tudo o que estava naquelas lágrimas. Era mágico.
Sobre o amor, bem, não sei nada dele. E se soubesse, só diria que ele arde, queima a cada tragada. Mas quando está no momento mais especial daquilo, isso não importa.
Faltava pouco, ela continuava a me tragar.
Quando vi, eu era mais fumaça do que propriamente um cigarro. E aquela altura, qualquer momento poderia ser o ultimo entre nós. Era o sexo mais incrível entre aqueles lábios vermelhos e a minha pele em chamas. Sei que nunca provei de outro sexo, mas este era especial, os outros teriam inveja de mim.
Ela enxugou a última lágrima e sussurrou o nome dele. Tentei ouvir, mas não consegui assimilar. E eu sabia que minha hora estava preste a chegar.
Claro que havia um carinho meu a respeito dela. Deixei meu corpo queimar para que o sorriso pudesse surgir, mas não foi o que aconteceu.
Fui arremessado com violência. Atingi o chão duro e bati mais uma vez antes de ali ficar. Era o meu fim, e eu faria isso um milhão de vezes por aqueles lábios, mas antes que eu pudesse apagar a ultima chama em minha pele, eu a ouvi sibilar:
- Malditos cigarros!
E então ali entendi o que era amar.
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