segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Escritor Idiota


Duas, três ou quatro xícaras de café, e ele ainda está lá. Escrevendo e escrevendo sobre as coisas que eu morro de vontade de perguntar o que são.

Ele vai mentir, e vai dizer que não tem nada a ver com nós dois, mas eu sei que não é verdade. Se eu sair daqui agora, e tirar minha camiseta, logo o personagem estará seminu na história. É quase como um profeta escrevendo uma passagem sobre nós. Mas nessa história, ninguém é santo.

Sei a forma certa de conseguir sua atenção, e gosto dela. Implica em ir lá, sentar-se em seu colo, fechar aquela merda de notebook, e beijá-lo até que perca a respiração. Foi o que eu fiz há algumas horas atrás, e ele me amou tão loucamente que eu continuo nessa cama sem ter forças pra me levantar. Já ele prefere escrever, diz que essa coisa comigo costuma fazer a tinta da caneta desenhar melhor o contorno das palavras. Ele nem está usando uma caneta, idiota.

Eu o amo, e essa coisa é tão louca, que eu nem faço ideia do porquê. Se eu disser isso em voz alta, ele vai vir com outro poema sobre os detalhes, o amor não ter explicação, sorrisos, olhos e beijos intermináveis. Eu já sei isso tudo, na verdade estou de saco cheio dessa história. Larga essas merdas aí e deita aqui comigo, preciso de você agora. Sou egoísta e quero você aqui e, somente, aqui.

Eu gosto de vê-lo assim. Isso é a mais pura verdade. Sem camiseta, usando aquela samba canção que não tem nada de sexy. As costas largas se movimentando bem devagar, enquanto os dedos insistem em digitar freneticamente. Em alguns momentos ele para, respira mais fundo, olha para mim com aqueles olhos azuis, sorri e pergunta com aquela voz doce que me irrita tanto: “O que você tá olhando?”. Eu rio.

Ele diz que é a forma de conseguir inspiração, olhar a sua volta e ver o que lhe impressiona. Não que eu seja a melhor de todas as escolhas, mas é assim que me sinto quando ele volta a digitar dizendo bem alto que me ama, mesmo sem eu ter feito nada.

Agora lá vem ele, daquele jeito de sempre. Olhos cansados, xícara vazia e o sorriso satisfeito no rosto. Não dá pra entender isso de forma alguma. Como alguém goza e se dá ao luxo de escrever que ama fazer isso com aquela pessoa que está na sua cama esperando pelo seu carinho? Não é uma reclamação, é uma dúvida na verdade. Nos conhecemos assim, e isso sempre foi um mistério para mim. O gozo e a escrita.

Tem algo no nosso “ser romântico” que deixa tudo um pouco mais apimentado na história. Eu gosto de não me importar quando estou por cima, assim como ele gosta de manter o comando mesmo estando por baixo. Nossa história de amor sempre começa sem as roupas e termina com o sorriso vestindo nossa pele. Sexo é a maneira mais gostosa de se viver amor.

“Demorei muito?”

Pergunta idiota, claro que demorou. Estou a vários minutos nessa cama, fingindo ler algo, ver tv, ouvir música. Fingindo não me importar com ficar um pouco que seja longe de ti. E eu sei que você precisa contar a nossa história, que alguém precisa ler e saber que os passos são perfeitos quando feito por nós dois. Mas precisa disso agora? Precisa mesmo me deixar aqui nesse minuto? Tira essa samba canção e volte pra cá.

Nessa hora eu quero mantê-lo mais próximo de mim. Aquele sorriso torto que é meu. Aquele jeito com os olhos azuis me sondando. Gosto quando a mão corre por cada parte do meu corpo e insiste em procurar o que falta ali, porque parece que existe saudade demais pra quem ficou dez minutos distante.

Saudade demais para quem ficou três dias, duas semanas e agora alguns meses ou anos.

Ele sempre foi um escritor idiota. Contando e descontando tudo sobre o que vivemos. Fingindo e "desfingido" ser sobre nós ou não. Eu não vou desligar o telefone nessa noite, nem vou dizer que não sinto a sua falta. Hoje não vou dizer ao mundo que você foi só um alguém sem camiseta e uma samba canção ridícula que prefere o teclado a continuar na nossa cama.

Volte a escrever, já acabamos aqui.


Duas, três ou quatro xícaras de café. E eu ainda estou aqui, escrevendo e escrevendo sobre a falta de você...

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