quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Ela só quer viajar


Vestido ao chão, algumas peças jogadas e outras que deveriam estar dentro do guarda-roupas e fora daquelas malas. Na parede muitas fotos, dançando, sorrindo, com muitas amigas e muitos lugares. Em cima da cabeceira um abajur e o passaporte com muitos carimbos. E, mais ao fundo, longe dos olhos, fora do alcance de todos, estava aquela estante imaginária onde mantinha sua coleção de corações.

Algumas horas antes, quando ainda estava em meio a música e dançando, embalada e dropando a pista sem ter medo das ondas que a envolvia. Ela estava livre, sem grilhões em suas pernas. Ela chegou depois de todos, seu próprio carro, com seu próprio dinheiro. Bebia o quanto queria, usava das artimanhas que sua beleza lhe favorecia, mas era tudo sobre ela e mais ninguém.

"Tão gata e ao mesmo tempo tão louca."

Era essa a frase que a descrevia. Bendito seja aquele que possa conquistá-la. Porque todos os outros já tentaram, mas só ganharam um espaço naquela sua velha prateleira. Um cara na sua companhia, nunca mais se interessa por outra. Ela aprendeu que os duros não sofrem, os moles, bem, esses não conseguem se manter em pé sozinhos.

Existe uma vilã que domina todos os tipos de planta, seu cheiro seduz todos os homens. Ela se alimenta de seus desejos e os manipulam para sua vontade. Não que desejasse ser assim, mas como uma flor, ela tem o melhor dos cheiros e o mais afiado espinho. Mas esta não saiu de uma história em quadrinhos. Não controla flores, a sua arma, seu batom, mata muito mais que qualquer outra.

Há alguns anos atrás ela foi como uma das garotas que não estavam ali. Ela era o almoço em família, o jantar na casa do namorado. Ela conhece bem o que é ser a companhia da sogra para um passeio ao shopping. Ou a viagem com o namorado num final de semana. Ah, ela sabe como ninguém tantas coisas. E o que vem após todas essas. Cada dia, cada lágrima. Já foi muito magoada, por isso magoa sem dó.

Agora só sente falta do vento em seus cabelos. Da brisa leve do mar ou o cheiro do campo. Ela gosta é de se sentar e ver a asa do avião enquanto este levanta voo. Gosta de neve no nariz, ela nunca se importa onde está, sua mente sempre foi o seu lar.

O vestido continua no chão, aquelas velhas roupas no mesmo lugar. Ela decidiu que ficam melhores fora do guarda-roupas e dentro de suas malas. O passaporte, ainda fácil, na cabeceira da cama, é só dele que precisa. E mais nada, nem ninguém.

Aquele coração novo na sua estante imaginária.
Ele queria tento conquistá-la.

Mas ela só quer viajar,
daqui pra qualquer lugar...



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1 Comentários:

Às 14 de janeiro de 2016 às 14:27 , Anonymous Anônimo disse...

Lindo texto . Cada pessoa que deixa em suas viagens e uma forma de estancar a ferida que ela sabe que nunca ira cicatrizar .
Bjnhs

http://karoline-caro-sonhador.blogspot.com/2016/01/voce.html

 

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