segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Eu te Intenso

Ele bateu bem forte a porta antes de sair. Ela estava no quarto, deitada, os olhos cegos pelas lágrimas que o cobriam. Sabia, muito bem, na hora que o viu pegando sua mochila com algumas roupas, colocando seu par de tênis, que ela tanto adorava, que esse era mais um fim. O fim do tal final feliz. Engraçado pensar em "final" e "feliz" na mesma frase. Isso é relacionado a momentos de alegria, mas como que um momento de alegria pode ser feliz num final?

Ela sempre chora por tudo. Há umas duas horas atrás, estavam naquela cama, os dois e nada de suas roupas. Faziam amor como dois animais selvagens se encontrando pela primeira vez. Um casal de leões ferozes e sedentos pela carne um do outro. Quando terminaram, ele sussurrou em seu ouvido aquelas palavras que ela sempre quis ouvir, mas achou que nunca seriam para ela: "Eu te amo".

Mas esse era o problema com esses dois. A intensidade sempre foi o tesão e o soco em seus estômagos. Não era a primeira vez que ele dizia isso para ela e nem a primeira vez que ela se emociona ao ouvir repeti-lo. Sempre tudo foi tão mais pesado entre eles. O beijo, o abraço, as brigas e o ciumes. As coisas eram tão intensas, que a primeira vez que ouviu essa frase, foi em meio a uma briga, quando ela disse que o odiava, ainda mais por amá-lo tanto. E lá estavam os dois.

Ela, ainda deitada naquela cama. Ele dirigindo seu carro sem rumo algum.

Ele tem um jeito só dele de estar apaixonado. A garota é sua e de mais ninguém. Ninguém toca, nem olha, não chega perto se não ele atira. É esse tipo de proteção que ele faz ao redor da mesma. Já sofreu um tanto que criou seu próprio escudo para essas coisas. Mas aí, uma garota de olhos claros vem e derruba tudo quanto é tipo de defesa. Ele fica sem saber como agir diante dessa alegria. Só sabe que não quer que ela se torne tristeza. Já tinha uma coleção imensa delas.

Ela, bem, digamos que ama muito mais do que pode suportar. Nunca foi o tipo de garota que deixava alguém achando alguma coisa. Sempre foi certeza. E isso fez dela uma singularidade que causava alguns temores nas pessoas. Ela tem sua cerveja favorita, seus lugares e as músicas que gosta de ouvir. É sobre sua opinião, e sobre ninguém se meter com ela. Exceto quando se apaixona, aí ela perde o equilíbrio, derruba os copos da mesa e esquece o nome do cantor favorito.

O som da porta batendo ainda estava alto em seu ouvido. Já se passaram mais de trinta minutos desde sua saída. E se tratando da intensidade de tudo isso, ela sabia que era tempo demais. Seu cérebro estava lhe afirmando que ficar calma e esperar era a melhor solução, mas quando se tratava Dele, era tudo sobre o seu coração. E este mandava Ela ligar insistentemente,

Ele não sabia para onde ir. Disse que ia para sua casa, para a casa dos pais, qualquer lugar. Só queria sair correndo e não brigar mais com Ela. Mas não conseguia ficar sem dizer nada. Continua a responder uma a uma suas mensagens, e continuavam a se magoar. A falar um monte de coisas que nem concordavam, entre elas, o quanto odiavam um ao outro. Grandes idiotas.

Sobre os dois, podemos afirmar que faziam da chuva em meio a cidade, uma imensa cachoeira num lugar afastado. Eram estrelas enquanto todos eram brechas de luz. Nunca foram desses casais normais, que sentam, conversam e determinam pontos positivos e negativos. Eram duas explosões, fosse ela de carinho, tesão, ciumes ou raiva. Eram bombas, e nada mais além disso.

As frases são duras. As lágrimas queimam e o ar fica difícil de respirar. Ele traga mais um cigarro, seguido de outros dois. Ela se desliga do mundo, chora e continua a telefonar. Ele dirige, estaciona e entra no apartamento. Ela toma um banho frio, soca a parede e se pergunta porque Eles têm que ser tão idiotas e imaturos em meio a essas brigas.

O barulho da porta ainda é alto, Ele a bateu com tanta força. Ela ainda consegue ouvir.





O banho frio, um ar entra pela brecha na janela, e ela se sente sozinha. Uma mão atravessa o box do banheiro. Ele, ainda com suas roupas, entra e fica sob aquela água olhando para a garota nua a sua frente. Ela, com os olhos vermelhos, não consegue dizer nada. Nem ele, só quer beijá-la e continuar dali em diante. Eles se odeiam tanto.



Estão na cama, Ele sorri para Ela. Enquanto esta vê que a mochila o tênis estão jogados ao chão. Mais uma vez se emociona, e concorda que se amam, mesmo não entendendo nada sobre essas brigas, medos, beijos e tesão  que os devora. E então, antes que pudesse perceber havia acabado mais um final feliz, e eles nem haviam terminado nada.

Na manhã seguinte Ela ainda seria a sua garota, e Ele o garoto que a faz sorrir e chorar.
Acordariam em meio a sorrisos, após a noite se procurarem durante todo o tempo na cama. Eles concordariam que são felizes ao lado um do outro, e que nada iriam separá-los. Até que alguém dissesse algo errado, ou o ciumes os cegassem novamente.

Maldita Intensidade.


Imagem: PhotoBucket

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