sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Carpe Diem: Recompondo-se

Para acompanhar leia: A Despedida

Ela o abraça enquanto a segurava em seu colo, o toque da sua pele era macio e o doce cheiro que esta emanava o fazia escravo daquele momento. Hipnótico era o seu sorriso, magnético era o seu corpo enquanto cósmico eram os seus beijos. Preso a um mundo no qual só os dois viviam. Ficaria ali para sempre, se o som de algum relógio barulhento não tivesse despertado Miguel daquele sonho, quase que real...


Como de costume levantou cedo naquele dia. Legal, um final de semana livre, sem estresse de trabalho ou qualquer outra bobeira rotineira dos dias convencionais. Hoje era aquele momento de colocar sua regata velha, a bermuda surrada, o par de tênis largo e o boné colorido com desenhos costurados virado para o lado. Fones no ouvido e o skate, seu fiel companheiro, nos pés. Seriam os únicos a acompanha-lo neste mais novo e lindo dia. O vento o guiaria, o sol determinava o tempo e a música suas remadas. 

Miguel conseguia com aquilo desligar-se por completo, ou quase isso. Aproveitar o dia de sol como se não tivesse hora para acabar. Pensamentos costumavam voar livres, mas sempre acabavam voltando para uma certa alguém. Um mês, era este o tempo que passou desde que a viu pela última vez. Sentia falta dela, era inevitável ser pego por estas lembranças. Lívia tinha aquele gosto especial, que nenhuma outra garota soube ter. Sabia o jeito certo de se mover, a leveza certa do toque e a força exata das palavras. Mas, tinha que deixa-la para trás, afinal este era o objetivo inicial.

Andar pelas ruas daquele país distante do teu, em um continente desconhecido, fazia-o livre ou pelo menos sentir-se assim. Morar com seu tio é como dividir o apartamento com alguém que apenas dorme ali de vez em quando. Isso era bom até certo momento, Miguel teve que amadurecer muito em pouco tempo. Para alguém com 21 anos e morando "sozinho", até que estava se dando bem. O problema deste tempo sozinho em casa era os sentimentos de saudades que batiam e o faziam querer voltar correndo para casa. Porém a vida lhe ensinou a seguir adiante, remando sempre a frente.

Hoje, um sábado, um dos poucos dias que conseguia relaxar e sair de casa. Trabalhar e estudar consumia toda a sua semana. A verdade é que ele estava muito feliz por isso, afinal não tinha tempo para esvaziar a cabeça. Mas seus finais de semana eram livres, isso queria dizer que precisava se ocupar e esquecer um pouco do que ficou para trás. Suas tardes eram recheadas com passeios de skate por toda Bondi Beach, uma das praias mais interessantes para a prática em Sydney. Não teve dificuldade em encontrar este lugar, afinal, todos com um skate no pé costumavam remar para um mesmo lado.

Neste lugar que pôde conhecer Steve, um Americano nascido em Washington, a capital Estadunidense. Decidiu partir de sua cidade com motivos semelhantes aos de Miguel. Morava ali a um ano e conhecia algumas pessoas e lugares onde ir. Em meio a isto que o convidou  para uma festa na qual muita música e bebidas estariam la, ou para uma oportunidade de sociabilizar com outras pessoas e não morrer na solidão de um país desconhecido. Melhor que isso, tentar conhecer alguém que o fizesse esquecer de algo que deixou a muito longe de sua nova vida.

Já era quase noite quando chegou em casa, o relógio anunciava 23h, era melhor correr para estar pronto. Fazia um tempo que não saía para a noite, ainda mais estando distante de seus amigos. Então era a noite de colocar aquela camiseta gola V branca com a estampa de uma caveira colorida, a calça jeans um pouco mais certa ao seu corpo e os tênis sneaker coloridos por cima dela, no pescoço uma corrente fina amostra daquela camiseta e na cabeça, claro, seu já fiel boné, desta vez virado para trás, não de forma reta, mas com certa inclinação para esquerda, proposital. 

Ouviu o carro de Steve chegar. Passou seu perfume, apanhou seus óculos escuros (a festa duraria mais do que o descanso do sol), olhou-se no espelho. Estava pronto para aquilo, para uma nova aventura, um novo jeito de viver. Tateou os bolso e encontrou o papel amassado. É serio? Ele tinha que aparecer neste momento, quando estava prestes a sair e deixar isso mais para trás do que nunca? O abriu e leu novamente cada linha, sorriu enquanto limpava a lágrima que escapou sem perceber. Amassou o papel e o jogou em um lixo qualquer, enquanto num sussurro completava:

"Jamais retornarei, pelo skate me apaixonei.
O destino te deixou la fora e sozinho viverei agora.
Quando o sol acordar, um novo amor irá me despertar.
Carpe Diem"

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1 Comentários:

Às 4 de janeiro de 2013 às 17:53 , Blogger Kleberson Marcondes disse...

Bom - o tempo que temos para todas as coisas e bom, para os nossos momentos, para as nossas coisas e nossos infindáveis sonhos. O amor, que aqui é descrito, encontrou terra fértil em meu coração. Acolhi, cada fragmento, como uma costura que me falta, uma linha que me carece, um suspiro de salvação que frases ditas não conseguem mais me devolver. Nesse texto, existe um coração e esse coração se encontrou com o meu, de tal modo, que só tenho a agradecer pela partilha! Parabéns! Muito obrigado! Axé!

 

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