terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Carpe Diem: A Despedida

Acostumado a fugir dos sentimentos nunca se imaginaria preso a este furacão. Onde seus sonhos se misturavam com suas realidades, suas definições ficariam confusas juntamente com a sua respiração quando esbarrasse novamente com aquela garota. Não sabia muita coisa sobre isto, mas sabia bem como está história tinha começado...


Madrugada de uma segunda-feira qualquer, alguns amigos reunidos em sua casa, músicas tocando ao fundo enquanto o som de conversas e risadas eram abafados. Entre as pessoas do lugar estavam alguns amigos que ele havia conhecido a pouco menos de um ano, outros que ele conhecia a vida inteira, mas todos tinha algo de muito em comum. Haviam se reunido para se despedir de alguém que agora partia para outro continente, deixando neste apenas as lembranças de tudo que viveram até ali.

Um garoto de estatura média, cabelos baixos e desordenados que se escondiam abaixo de seu boné colorido, olhos de um castanho claro. Recostado em sua cama pensando um pouco antes de voltar para o meio daquela festa. Miguel era este tipo de pessoa, que prefere ficar só no seus momentos de tristezas e junto aos outros nos de alegria. Decidiu dar-se este tempo a sós, para se recuperar e então voltar a toda aquela festa com seus amigos. Teria sido perfeito, se Lívia não tivesse se preocupado de procurá-lo, e ele não se visse agora tentando achar as palavras certas para se despedir da garota, que por muitos anos, foi a sua garota. 

O namoro já havia se acabado há alguns meses, mas a cumplicidade entre os dois nunca se desfez. Depois de  Lívia, até conheceu outras garotas, conversou com muitas, beijou bastante e dormiu com algumas, mas nenhuma saciou o desejo que ele tinha por aquela garota de longos cabelos louros, olhos verde como o mar, que no reflexo se tornavam azuis, uma pele branca e clara se contrastava pelos lábios vermelhos que a compunha. Sempre fazendo brincadeiras e rindo de si mesma, era sincera ao ponto de irritar suas amigas, mas não se preocupava com isso. Era deste tipo de garota que não tem medo de opiniões e nem se prende aos padrões que eram impostos. Era o tipo de garota que fez Miguel se apaixonar desde o primeiro dia em que a viu.

Lívia pediu para que ele não dissesse nada e que apenas a abraçasse. Confessou que preferia ter dito algo, seria menos doloroso do que fechar os olhos e lembrar de tudo o que viveram até chegarem aquele momento. Ele já havia se despedido de todos, chorado muito quando abraçou sua família, e mais ainda quando abraçou os amigos que viveram ao seu lado durante anos, que sabia mais dele do que ele mesmo. Mas isto era muito, era como deixar suas pernas em um lugar enquanto vai embora para outro, porém foram estas pernas o principal motivo pelo qual escolheu ir morar com seu tio que morava distante. Austrália, devia ser este o nome do país, agora tudo o que não queria lembrar eram nomes e distâncias. Queria esquecer-se de tudo e ficar ali por um longo tempo, pelo menos o suficiente para aquilo se tornar eterno. Afinal o fim tem a mania de ser mais forte e menos esquecido do que o começo.

Dentro do avião, algumas horas depois de toda aquela despedida. Tentou não mais chorar, optou por deixar tudo e todos para trás, era a sua vida progredindo, precisava seguir adiante. Deixou todos felizes, os amigos estavam bem, não estariam sozinhos. Sua família sentia orgulho do filho que iria trabalhar em um lugar distante, mas que havia ido atrás de um sonho. Lívia, o que falar sobre ela. Não quis pensar muito e se deixou viver as lembranças da história que viveram. Teria sido mais fácil se não a tivesse visto antes de partir, mas futuramente se arrependeria de não ter dado o Adeus. Lembrou-se do bilhete que ela colocara em seu bolso antes de se despedir por completo, pediu insistentemente que só o lê-se quando o avião descolasse, era exatamente o que faria agora.

Viveram três anos de um relacionamento conturbado, porém muito feliz. O fim se deu a algumas mágoas bobas, por coisas miúdas, mas que se tornaram gigantes com o tempo. O bilhete falava um pouco de cada momento mágico que haviam passado. Como na vez que depois de uma festa, acordaram em uma praia sem entender como chegaram ali. Ou quando a buscava em uma aula chata de matemática e fugiam dali os dois em cima de um mesmo skate velho. Miguel já não conseguiu mais conter as lágrimas, e a vontade de pular dali, com ou sem para-quedas. Sabia que ela estaria la embaixo esperando por ele. Era tarde demais. E tudo que tinha dela eram as lembranças e um bilhete que dizia:

"Aprendi a remar, aprendi a sozinha em pé ficar.
O skate fez a volta em meu pé e com ele consegui flutuar.
Com ele te vi chegar, com ele um dia de cada vez entenderei que você não voltará.
Carpe Diem"

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1 Comentários:

Às 18 de dezembro de 2012 às 16:29 , Blogger Kleberson Marcondes disse...

Conheço uma história quase igual a essa, que é real, que fala de encontros e despedidas, da saudade que fica, do amor que vai, da esperança que não se sabe por quanto tempo vai existir, mas a história aqui, tem final, um desfecho e talvez, para o personagem, um final digno. Muito bom o texto, a prosa, a leitura. Parabéns! ♥

 

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