quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Fragmentos do Diário de um Beijo

Para acompanhar leia primeiro: Fragmentos do Diário de um Sorriso

"Não acredito que isso esteja acontecendo."
Foi a primeira coisa que pensou ao ler a última mensagem que eles haviam trocado. Eram sempre brincadeiras, mas as vezes ela se pegava relendo as conversas e percebia que poderia ser engraçado, se ela não dissesse as palavras tão seriamente. Porém ele não fazia da mesma forma, ele dizia sem dizer nada, e aquilo a torturava cada vez mais. Aquele garoto que senta ao seu lado todos os dias e nunca fala com ela, mas quando a encontra em outras ocasiões e lugares não perde a chance de ir cumprimenta-la.

Chegou um pouco atrasada hoje, a aula já havia começado. Teria dado importância a isto, mas ao entrar na sala tudo que encontrou foi os olhos dele apontando em sua direção. Seria um grande avanço, para um tipo de garoto que se diz interessado mas nunca fez nada para demonstrar isso, porém ao colocar os seus olhos nos dele, o viu virar o rosto mais uma vez, tímido como sempre fora. 

Ela já era do tipo mais extrovertida, que falava e falava porém não dizia nada. Gostava de conversar e sempre deixava claro seus interesses. Porém há algum tempo havia reparado num regresso a suas atitudes. Ultimamente, se via tão tímida quando aquele garoto fazia algo que dizia a respeito dela. Isto seria um pensamento "esperançoso" demais vindo de alguém que escondia os olhos quando ela o olhava. Estranho pensar que este era o mesmo garoto com o qual ela passava dias trocando mensagens ou, até mesmo, pensar no garoto como aquele que se despediu com um beijo na testa em uma festa, beijo este que ela nunca conseguiu parar de pensar. 

Fim de aula, algumas pessoas apressadas, outras nem tanto. Hoje ela estava calma, aos olhos dos outros. Porque estava um turbilhão passando por seu peito. Queria entender as brincadeiras feitas numa mensagem pela madrugada, ou os sorrisos tímidos que trocavam a quase um ano ali sentados. Porém Ela não poderia fazer nada mais, era simples, já tinha aceito que gostava dele. Mas o que ela poderia fazer para que ele soubesse disto? Cansada foi embora dali, sozinha hoje, não queria conversar com seus amigos.

- Oi.

Uma voz doce e grave vindo atrás de sua cabeça, normalmente responderia com um sorriso normal, ou se assustaria como sempre faz quando esta absorta no oceano de seus pensamentos e a pescam de lá. Fez melhor que isto. Olhou nos olhos dele, tentou sorrir sem parecer idiota, mas o fato de este pensamento passar por sua cabeça já a tornava uma. Tentou responder calma, mas o gaguejar na sua voz mostrou todo o seu nervosismo. Bem que gostaria de lhe dar uma resposta, mas nem suas piadas mal formadas saíram nesta hora.

Com calma ele se aproximou mantendo os seus olhos presos ao dela. O que ele estava fazendo? Ela precisava dizer algo, qualquer coisa boba e sem sentido. Porém tudo que conseguiu foi um sorriso tímido. Ele entendeu e com a voz baixa sorriu deixando claro que sabia o que estava fazendo. Sabia o que? Estava tão estampado em seu rosto afinal? Como um cartaz escrito "Esta garota desesperada quer você para ela."?
Ele sorria, isso a reconfortava. 

Então entendeu que palavras não fariam diferença aquele momento. E se deixou levar ao toque de seus braços por volta de sua cintura. Sua mão suavemente acariciou o rosto dela, e desta vez se via entregue, suas mãos desajeitadas estavam presas ao peito dele enquanto a abraçava. 
"Garota estúpida, nunca acerta as posições certas de uma simples mão."
Pensamentos tão aleatórios que nem ela entendia. O sorriso tímido do garoto sumiu, e agora seus lábios se aproximavam cada vez mais. E nesta hora tudo que pôde fazer foi fechar seus olhos e deixar se levar naquele sonho.

O gosto era doce e o toque era macio. O contato daqueles lábios ao dela fez como se uma descarga elétrica passasse por todo o seu corpo se intensificando cada segundo mais, conforme sua língua navega pela língua dela. Estava pulando de um paraquedas sem precisar de equipamento algum, deixando-se levar pelo toque em sua pele e sabia que podia voar, enquanto ele fosse suas asas e se mantivessem presos ali. As mãos deles passaram pelos fios negros de seu cabelo, então a corrente de energia estava reagindo como um raio cortando sua pele, o choque se espalhava aos poucos e ele reagia como um imã ao magnetismo envolto de sua pele, se prendendo cada vez mais a ela. O raio a atingia enquanto voava sem os seus paraquedas, O doce de sua boca se confundia com a maciez do seu toque, seu peito explodia, sua pele gritava. E num segundo ele a despertou quando tocaram novamente o chão.

Queria não ter se desligado daquele momento, mesmo que tão pouco, aquilo pareceu durar um instante que ficaria para sempre dentro da mente daquela garota. Esta que estaria agora rabiscando linhas desordenadas de um diário, tentando definir o doce gosto de um beijo que nunca sentira antes, quem era ele, ou o que sentia. Mas desistiu quando viu seu celular tocar e a mensagem do protagonista da sua história chegar.


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