domingo, 23 de setembro de 2012

Uma Bagunça Organizada.


Uma janela entre aberta mostrava que o sol já estava gritando por um novo dia, no chão algumas roupas desorganizadas ao meio de alguns livros jogados ali. Um pouco de tênis perdidos por debaixo da cama, algumas almofadas soltas em qualquer lugar, entre tudo isto, um enorme espelho se erguia ali naquele quarto, em um canto perto de seu guarda roupa, que estava mais vazio que cheio, já que suas roupas estavam, em maior parte, espalhadas pelo quarto.

No reflexo um garoto com os cabelos meio bagunçados, como se não se importasse com a ordem deles. A pele um tanto quanto clara, em um tom mais amarelado que branco, afinal era verão, e aquele tom de inverno já havia sumido. Seus olhos continham aqueles verdes meio que fugindo pro azul e deixando o enigma da cor sempre no ar ao ser questionado sobre. A boca nem tão grande, nem muito pequena, o tamanho certo para contrastar com o resto do rosto que compunha. 

Parado ainda sem camiseta, como quem acaba de levantar da cama, se espanta com o estranho ali refletido naquele imenso espelho. Ele tinha um nome, talvez Leandro, ou Pedro, poderia ser algo do tipo Lucas, ou até mesmo João. Isto não faria diferença naquele momento. Afinal o nome dele estaria escrito em algum documento assinado por aqueles, assim nomeados, seus pais.O que o preocupava era essa tal de Identidade que, por mais que buscasse, não conseguia encontrar em lugar algum.

Uma lanchonete comum, algumas cadeiras em volta de pequenas mesas redondas com cores mais calmas, que tornavam o lugar mais aconchegante. No canto alguns pequenos sofás, deixando aquilo com um ar mais "descolado", ou qualquer que seja o tipo de gíria nova que passe pela cabeça destes adolescentes de hoje em dia que estão mais preocupado com seu Iphone do que com o que dizem.

Ela entrou e procurou aquele lugar que gostava de sentar, não muito afastada da porta, mas também nem tão perto, o espaço e tempo ideal para comer aquele seu lanche preferido e ainda sair no horário da sua aula. A faculdade não era muito distante dali, umas duas quadras se não me enganei na contagem, mas quando ligava os seus fones de ouvido Gabriela nem se importava. Afinal ela sabia que estaria lá no horário, e que tudo estava muito bem organizado e ajustado desta forma.

Hoje quis pedir algo de diferente, passou os olhos por entre aquelas linha de um imenso cardápio com várias opções, deliciosas de lanches. Queria pedir aquele que vem com queijo, ou com bacon, uma coisa diferente e gordurosa, do tipo que pessoas que não se importam com sua saúde comem. Um lanche parecido com o daquele menino de cabelos desordenados que estava ali sentado próximo ao balcão. Por falar neste garoto, era estranho a forma como ele chegava àquela lanchonete, as vezes não se importando muito com o que pedir, sempre alterando os lugares onde sentava, curioso, mas Gabriela gostava de manter seu hábitos. Com isto decidiu que lanche comer, aquele especial com saladas, que estava acostumada, afinal poderia abusar um dia, mas não seria hoje.

O garoto, que não se importou em arrumar os cabelos, vagou os olhos pelo ambiente, percebeu algumas pessoas que sempre estavam naquele lugar, algumas garotas que sempre escondiam seu olhares quando encontrava com os dele. Nunca entendeu muito bem esta coisa com as garotas. Quando estava feliz e acompanhado há alguns meses atrás até entenderia, sabia como se arrumar, seu cabelo era o mais legal da turma, estilo próprio, que gerava-lhe bons elogios. Hoje em dia havia perdido muita coisa, quando ouviu a frase final que aquela, que por muito tempo foi a mulher da sua vida, disse sem pensar muito bem, ou talvez muito bem pensada, se viu totalmente bagunçado.

Gabriela terminava seu lanche, quando percebeu que havia excedido seu tempo, e hoje, uma terça-feira qualquer, sua aula começaria um pouco mais cedo devido a alguns horários que precisavam ser repostos. Se assustou ao notar que, pela primeira vez, algo fora de sua rotina estava acontecendo, logo com ela, uma garota acostumada a organizar seus horários, seus programas e sua vida de forma impecável, mas tudo bem, daria tempo se ela corresse.

Ele voltou seus pés no chão ao perceber uma garota levantando apressada e esbarrando em algumas cadeiras, achou engraçado e meio confuso, mas a parte que mais gostou é ver sua atenção presa a algo, já que não conseguia fazer isto há algum tempo. No meio disto, seus olhos começaram a reparar. Seria injusto descrever aquela garota, os detalhes dela que impressionavam. Seus longos cabelos morenos deslizavam em seu rosto, muito bem organizados e mostrando que ela havia planejado cada curva daquele penteado, os olhos eram verdes, do tipo esmeralda, profundos e misteriosos, mas eram convictos de serem mesmo daquela cor, isto não deixava dúvidas. O tom da pele era claro, um branco quase que totalmente corado com o vermelho que suas bochechas demonstravam. Era linda, sem sombra de dúvidas, pela primeira vez, depois de um longo e frio tempo, viu seu olhar preso em direção daquela garota.

Ainda pegando por suas coisas, percebeu que um olhar mirava em sua direção. Mas devia ser dar ao fato de estar toda atrapalhada tentando manter a ordem das coisas. Resolveu não se importar com isso. Agora, com seus cadernos no braço, estava partindo em direção a porta, foi nesta hora que seus olhos o encontraram.

Ficar curiosa pelas pessoas diferentes que apareciam ali era normal, sua rotina era sempre esta, então era um tipo de brincadeira que fazia todos os dias, esperando encontrar alguém que acompanhasse este estilo "certinho" que gostava de fazer.  Um cara que fosse, assim como ela, escravo de seus horários e das voltas repetitivas de cada dia. Mas este cara a intrigou, suas roupas não seguiam uma ordem, mais ainda sim lhe caíam bem naqueles ombros largos, os olhos eram uma dúvida, nem verdes nem azuis, duvidava que o próprio proprietário de tais soubesse que cor eram. Era atraente, daquele jeito, desordenado e não se importando com nada, se fosse mais organizado, aqui ou ali, talvez não despertasse essa curiosidade que agora a aguçava.

- Oi, meu nome é Paulo.

Por um instante sentiu suas bochechas ainda mais vermelhas, por outro achou que não era direcionado para ela esse tom de voz, que em tão poucas palavras a fez arrepiar-se com tal frase.

- Desculpe, mas é que você deixou o caderno cair.

Que garota tola, saindo correndo tão rápido, fugindo por entre seus pensamentos, esqueceu de notar que enquanto viajava por tudo aquilo ali, seu caderno escorregará de sua mão. Será que havia ficado muito tempo ali parada, será que ele havia notado que ela estava ali, ou foi tão rápido que ele mal percebeu? Quantas dúvidas em tão pouco tempo, e porque tudo isso afinal? sempre teve todas as respostas, havia algo de errado ali.

Paulo então sorriu ao perceber que a garota passou a mão nos próprios cabelos tentando mantê-los organizados, mas isto fez com que cada linha se misturasse, ela estava tão desordenada quanto ele. Pensou em dizer mais alguma coisa, mas a garota quase que em uma grande velocidade saiu pela porta, como se ele a tivesse ofendido.


Os sonhos eram engraçados, um garoto em uma lanchonete, dizendo-lhe alguma coisa, ao tempo que via seus lábios se aproximarem, eram basicamente voltados a isto. Quando seu relógio despertou, Gabriela não entendeu muito bem. No chão do seu quarto estava alguns cadernos jogados, estranho pensar nisto, já que o lugar deles eram em cima de uma estante de madeira polida ao lado de sua cama. Tudo bem uma desorganizaçãozinha por hoje, mas mesmo assim aquilo lhe soou diferente demais para começar seu dia.

No espelho em seu quarto viu o reflexo de uma garota morena, cabelo um pouco desorganizados, ainda vestida apenas de suas roupas íntimas, ela sabia que tinha um nome, e sabia muito bem disto, mas hoje parecia que isto não lhe importava, talvez até gostasse da ideia de ter uma outra vida, diferente da suas rotinas planejadas e bem formadas.

Ele entrou naquela mesma lanchonete da semana anterior, outra dia comum, hoje uma segunda-feira.O começo de mais uma semana, mais uma vez não tinha ideia do que fazer. Hoje decidiu que iria se sentar naquele sofá ao canto, não tão distante nem tão próximo à porta, para dar tempo de comer e então chegar na hora em sua faculdade.

Gabriela entrou pela porta, era de sua rotina estar lá todos os dias, foi em direção ao seu lugar. Sentou-se de frente para aquele garoto, o nome ela já sabia, era Paulo, até gostava deste nome. Soltou um sorriso em direção a ele, achou engraçado ao perceber que os seus cabelos hoje estavam mais organizados, afinal ele havia cortado, sua barba havia crescido, com os olhos confessou que tinha gostado daquilo.

Paulo sorriu de volta para a garota, que parecia não se importar muito hoje com seus horários, nem muito com o lugar onde se sentava, a viu pedir um desses lanches cheios de coisas não saudáveis, achou curioso ao perceber que estava comendo aquele lanche com saladas...

Ela era tão organizada, ele estava tão Bagunçado.


Uma janela entre aberta, os raios de sol lutando para entrarem por cada brecha que permitissem seu acesso àquele recinto. A garota de longos cabelos negros abriu os olhos, no chão agora via algumas roupas desorganizadas e um enorme espelho ao lado de um guarda roupa qualquer. Em seu reflexo via sua imagem nua, sua pele branca sentiu o toque quente daquelas mãos, que entraram em contraste com seu tom mais amarelado. Sua pele quente reagiu ao toque do rapaz. Agora no reflexo via os olhos dele olhando para a curva de seu corpo, segurou a mão dele nas sua e então a levou direto ao lado esquerdo de seu peito, onde agora alguma coisa batia desordenadamente, forte sentia a pulsação se queimar e fazer o sentimento nascer, com um sorriso, olhou nos olhos dele.

- Está tudo uma bagunça.

E então apertando forte a mão dela, pensando na forma como chegaram ali, respondeu:

- Estou aqui para lhe organizar.

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