domingo, 19 de agosto de 2012

Duros olhos Azul Marina

Uma casa vazia, ao fundo uma música forte - daquelas que nos fazem cantar chorando enquanto descontamos nossas raivas. Em um quarto, sentada em sua cama, encontrava-se uma garota comum. Seus longos e lisos cabelos negros ressaltavam sua pele, que de tão branca parecia não ver o sol há algum tempo. Sua boca brilhava entrando em contraste com a camisa vermelha que vestia. Uma camisa qualquer, velha e sem graça. Em sua mão estava um telefone. Os olhos, duros olhos azuis, rodeados por uma mancha vermelha que se mostrava sofridos, ainda passavam pelas letras daquela curta mensagem: "Eu sinto sua falta."

Por um momento sentiu uma imensa vontade de respondê-lo, mostrar que o amor ainda existia, que a história era real. Mas preferiu deixar a música e as lágrima a levarem. 

Acordou logo depois que o sol já estava gritando por sua janela, tentando de todas as formas entrar em seus aposentos. O rádio ainda tocando algumas músicas, sua cabeça ainda doía. Não se lembrou ao certo quando dormiu, mas sabia o porquê estava com os olhos ainda inchados. Sabia a causa do gosto amargo em sua boca, também sabia que estava discando o número dele.

Beto abriu os olhos e viu acima dele um lustre que ainda não conhecia, correu os olhos pelo quarto.  Viu algumas roupas jogadas no chão e no canto algumas almofadas vermelhas. Viu grande parte de suas roupas se misturando com outras roupas de uma garota. Ao seu lado, longos cabelos louros enchiam o travesseiro. A pele da garota era clara e o lembrava de alguém, ainda mais nua estando nua e quente, era macia. Poderia continuar aquilo ali, mas ele nem queria se lembrar do nome dela, era mais fácil assim. Saiu por debaixo daqueles lençóis, calmo vestiu suas roupas e partiu para a porta.

No seu carro começou a pensar em como chegou ali: Estava em sua casa ouvindo alguma música no rádio, que o fazia cantar em tom de raiva e mágoas, quando se viu escrevendo uma mensagem boba pra uma garota boba, que o fez viver a parte mais feliz e boba de sua vida. Um pouco após isto,  uma campainha tocou, viu que seus amigos trouxeram algumas bebidas e muitos convites para uma festa em um desses lugares que várias garotas de coração partido aceitam qualquer história para se iludirem.

Chegou em sua casa, agora o sol já brilhava forte no céu, o seu estômago arriscava dizer que o horário de almoço já havia passado. Mas foi neste momento que viu seu telefone tocar. Seu peito aos poucos se petrificava no frio de um gelo, seu estômago se embrulhava, até que então viu o número dela.

Começou a conversa devagar, ouviu o choro da garota, suas palavras se misturavam ao gosto de suas próprias lágrimas, ela pedia por uma mudança que ele havia lhe prometido, mas a noite anterior mostrou que está mudança estava ainda longe de ser alcançada. Então a culpa o pegou, tomando cuidado com cada palavra, se viu obrigado a contar de onde voltava.

Bruna abriu seus olhos com a claridade em sua janela, sentia um enorme vazio e uma culpa ainda a consumia. Procurou por alguém ao seu lado, mas tudo que encontrou foi o sentimento se fazendo vivo e o vazio aumentou ainda mais. Os olhos agora se mostravam castanhos, um tom claro e intrigante, os cabelos louros se esticavam sobre os travesseiros. No chão tudo o que via era suas roupas e ao canto suas almofadas vermelhas ainda estavam la.

Seu telefone jogado sobre sua escrivaninha tocava, tentou se levantar depressa, mas sua cabeça rodava e ainda doía, devido a alguns drinques tomados na noite anterior. Calmamente se ergueu, viu que conhecia aquele número, viu que sabia o que tinha feito e que agora Ela, sua melhor amiga que hoje há muito se encontrava distante e perdida no espaço de tempo, também sabia.

Tentou não parecer fraca e não se sentir culpada. Mas a voz fraca de Marina ao telefone a fez perceber do grande erro que cometera. Ouviu tudo que ela tinha pra lhe contar. Por incrível que pareça aquela garota conseguia ser mais que especial, mesmo estando magoada e destruída. Disse que ela sempre soube de toda a história, ressaltou as vezes quando disse a amiga para que terminasse tudo, que ele não era o melhor para ela, ressaltou também que eles já se sentaram na mesma mesa e dividiram das mesmas alegrias juntos e agora a eliminaram da história para brincarem de se enganar juntos.


Uma casa vazia, ao fundo uma música forte - daquelas que você escuta enquanto se arruma para sair a noite e esquecer de quem você, realmente, é . Em um quarto, um espelho grande refletia a imagem daquela garota, de longos cabelos negros que agora alcançavam sua cintura. Sua pele branca ainda era realçada pelo azul dos seus olhos, um olhar agora sem brilho, mas sim contrastado por uma sombra de cores vibrantes que o envolviam. Em sua boca uma tinta que a pintava com uma cor forte, realçando o resto de toda a maquiagem no seu rosto. A camisa vermelha agora havia sido substituída por um vestido que descia em torno de suas formas e valorizava tudo que existia de mais belo nas curvas daquela garota.

Agora seus olhos passavam pelo telefone, olhos firmes e frios, duros olhos azuis que escondiam todo o sentimento daquela garota. Uma mensagem recebida, mas agora não sentia mais medo, havia trocado o número, trocado a vida, havia desistido de tudo. E agora o que lia era apenas a mensagem de outras garotas que assim como ela, estavam indo para um lugar onde garotas de coração partido e que negam seus sentimentos vão dançar e acreditar nas mentiras de alguém que pode ser a história de amor fracassada de uma outra alguém.

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