sexta-feira, 20 de julho de 2012

Coisas que nunca irei dizer


Uma mesa de madeira estava ali naquele quarto escuro, iluminado apenas com a luz de uma vela, que parecia recender todo o cômodo daquela casa antiga, o garoto sentado na cadeira em sua frente rabiscava e rabiscava, o vento soprava do lado de fora enquanto ele continuava a rabiscar e rabiscar. Respirou fundo e começou mais uma vez com seus rabiscos, iria colocar naquelas linhas as palavras que queria que ela ouvisse, falar ali tudo o que nunca disse a ela antes. E então depois de muito tempo ele viu seu chão cheio de folhas amassadas, e papeis rasgados. Até que então conseguiu escrever tudo ali. Sentou-se, ajeitou sua cadeira, e começou a ler cada uma das linhas...

"Oi, é o seu velho amigo falando algumas coisas bobas pra você mais uma vez, como ele sempre faz, mas hoje vim lhe contar uma história diferente, hoje vim lhe falar sobre coisas que nunca irei dizer a você. Coisas que mantive aqui comigo, mas que chega uma hora que é preciso sair, ficam tanto tempo presas que voam em gestos e em atitudes sem que percebamos. "

Sua cabeça rodava, tinha que escrever palavras que fizessem toda a diferença, aquilo era um bom começo, mas ainda sim não era o que queria colocar ali, mais uma vez amaçou o papel, e então tentou um rabisco diferente...

"Você apareceu no momento me que eu me sentia sozinho, perdido e sem caminho a seguir. Quando eu pensava que nada mais tinha jeito, e que mais uma vez teria que juntar sozinho as partes de algo quebrado sob o meu peito. Eu dividi com você todas as minhas mágoas, e a parte mais engraçado foi esta, você dividiu comigo o peso das suas. Nós nos apoiamos um no outro para facilitar toda a dor e toda a angústia, sem perceber fomos deixando aquilo nos guiar, e então continuamos. Você brigou comigo todas as vezes que me viu chorar, me disse coisas ruins e disse que eu tinha que ser forte, e então quando me espelhei em você, te vi chorando, e então foi a minha vez de dizer que você deveria ser forte e que aquilo tudo passaria, e assim continuamos. Nos tornamos assim o melhor amigo um do outro. Eu acordava todos os dias com você me dando aquele "bom dia" que fazia toda a diferença pra mim. Um dia sem ele me deixava chateado, mas você sempre esteve la para dize-lo. Eramos como irmãos, unha e carne. Você era como eu era, agia como eu agia, chorava como eu chorava, brigava como eu brigava, era tão EU em VOCÊ, que eu me confundia as vezes."

Se viu tão previsível, e tão comum que se sentiu nauseado, tinha que dizer aquilo de outra forma, da Melhor forma possível, seu lápis então começou novamente...

"Temos mágoas fortes, cicatrizes profundas de um amor mal resolvido do passado. O peito ainda dói ao pensar em certas pessoas, quando mencionamos os nomes, sentimos que perdemos o chão, uma mensagem no celular ainda nos faz perder a cabeça. Somos iguais até nisso. Confesso que ainda tenho este machucado, e ainda conheço o seu. Eu queria dizer aqui hoje que eu sempre serei seu melhor amigo, sempre serei seu irmão, seu companheiro, o bobo que te faz rir, aquele que briga com você. Confesso que sinto saudades de viver uma grande história de amor, ao lado de alguém que me faça rir de tudo, que seja como eu, que sonhe como eu, e que não tenha medo de se machucar novamente."

Não imaginou que seria tão difícil colocar em linhas aquele sentimento que embrulhava seu estomago, deveria ter dito algo mais sobre sua beleza, ou como se conheceram, mas eram coisas que sempre eram ditas, precisava mesmo era de novas palavras, e então em um tom de raiva rasgou o papel, e pegando um novo começou...

"Eu gosto do seu jeito bobo, gosto do seu sorriso, gosto de como faz com que eu me sinta, gosto de conversar com você, gosto quando você mostra que se importa comigo, eu gosto dos detalhes, na verdade eu gosto tanto de você que não tenho coragem de dizer isso a ti, porque eu gosto disto, gosto do fato de você ser tudo o que eu quero pra mim, mesmo sem te dizer isto. Eu mais que gosto de você, eu hoje sinto saudades de coisas que nunca tive ao seu lado, sinto falta de momentos que nunca tive com você, eu quero mais uma vez viver um sonho, e quero que você o viva do meu lado. Mas a existe algo nisso tudo que não gosto, é que essas são coisas que nunca irei dizer"

E então enxugou seu olhos, ao ler as últimas linhas se lembrou que desejava que ela soubesse de tudo aquilo, mas que não tinha coragem de dizer, ela era tão linda, e estava sempre ali com ele, porque arriscar perder tudo isso. Agiria como amigo até a hora que pudesse, afinal podia não ser o cara que ela estaria segurando a mão, mas o fato de poder estar do seu lado já o fazia se sentir mais feliz que qualquer outro homem.

Percebeu o que seus rabisco se formaram, e as palavras ainda ardiam em sua cabeça, havia muita coisa pra ser por ali, mas de que adiantaria escrever tanto se ela nunca leria, ela nunca saberia dessas coisas, os únicos cúmplices ali era o lápis e o papel. Olhou para o fogo que ardia da vela acesa, esticou o papel e deixou a folha queimar, enquanto sussurrava para si mesmo "são coisas que nunca irei dizer..."

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1 Comentários:

Às 23 de julho de 2012 às 20:38 , Anonymous Anônimo disse...

:)

 

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