quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Bloqueio


Sabe quando abrimos os olhos logo pela manhã, naquele momento antes mesmo de seu relógio despertar, bem na hora que os pequenos raios de sol lutam por uma brecha em sua janela, naquela hora em que seus sonhos ainda tentam dar uma escapada enquanto você tenta escapar deles. É nesta hora que a inspiração vem. Quando você está sentado em seu carro, em um ônibus, ou qualquer outro transporte, que o leve ao seu destino logo pela manhã. Você sente o vento em seu rosto, então quer falar sobre aquilo, sobre aquela sensação boba logo de manhã. Aquele céu azul, iluminado por um rei amarelo que brilha mais forte que tudo no seu dia.

Sabe aquele abraço apertado quando você reencontra um amigo há muito perdido na sua vida, que se atreveria dizer que o esqueceu, mas sabe bem que já contou muitas das histórias que vivenciaram juntos para seu novo círculo de amizade. Neste momento eu queria escrever. Ou quando você conhece alguém novo e dois dias depois aquela pessoa se sente tão a vontade ao seu lado, que você sabe da vida dela mais do que esperava saber. Então você vê que ela é machucada, escondida e morre de medo de coisas pelas quais você já passou. Nesta hora, você precisa contar uma história.

Sabe quando você volta das suas férias, você percebe que passou o tempo todo sem se importar com o que seus colegas andaram fazendo, mas que depois de tudo, não conseguem se desgrudar, toda brincadeira é de risos, conversas sérias são risos e até os risos são mais que risos. Eu teria algo a dizer sobre isso. Em uma aula quando você vê detalhes dentro de coisas que ninguém percebeu, num pedaço de papel com um ponto negro no centro ou uma história de vida diferente, talvez um sorriso tímido que ninguém notou. Eu escreveria mais que uma história sobre isso.

Sabe quando você senta em frente ao seu computador, liga suas músicas agitadas, então desliga o som, e religa em músicas que você nunca ouve. E nada, eu diria NADA, consegue te fazer colocar em palavras  o que você anda sentindo por aí?

Peço desculpas, não a vocês, não a alguém em especial. Esse meu pedido de desculpas é para comigo mesmo, pelo fato de não saber separar sentimentos de palavras. Mas afinal eles são tão próximos, seguem em linhas tão similares, que seria uma falta de respeito separá-los de qualquer forma. 

O meu bloqueio não vem de hoje, nem de ontem, vem de algum tempo. Vem do tempo em que eu tomei a decisão de não me entregar, de não sentir, de não mais intensificar cada momento. Não me arrependi desta decisão, só sinto falta de colocar num papel história e detalhes bobos que todo mundo esquece de notar.

Entrei em uma guerra, vestido da minha melhor armadura, a espada em punho e a frente de tudo estava o meu escudo. Sangrei algumas vezes, perdi boa parte da armadura, mas algo continuou a frente de tudo, algo que me salvou e me tirou da batalha fazendo com que eu desistisse de lutar, o meu escudo. Vivi histórias, ou presenciei momento que de coração, me coloquei ali e compartilhei, enquanto lia sorria, por vezes chorava, entre linhas e parágrafos de meu próprio texto, mas eu me bloqueei. Com isso minhas palavras perderam o sentido e cada história boba que eu dividia com vocês. Afinal, o escudo é alto, e não consigo enxergar mais a magia que elas proporcionam aos olhos e corações de quem consegue entender os sentimentos que coloco nas palavras.

Não falta sentimento aqui, falta senti-los. E palavras para expressá-los. E talvez consiga fugir desta maldita, terrível, e assustadora, palavrinha de oito letras: Bloqueio.

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