quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Última carta

Como eu deveria começar? Talvez com um desses comprimentos que pessoas normais usam para mostrarem que se importam umas com as outras, quando na verdade nem ligam se o "tudo bem?" é respondido. Engraçado perceber que normalmente a resposta que se dá a está pergunta é a mesma pergunta, tornando tudo isso um circulo vicioso de quem se importa menos com quem.


Oi! Tudo bem?

Não me confunda os pensamentos, deixe que eu os reorganize, porque, por incrível que pareça, você sempre embaralha toda a minha mente quando está dentro dela. Eu gostaria muito que você parasse com isto, afinal, não é legal ir a casa de alguém, sem ser convidado, e muito menos deixar os seus tênis, ou sua camisa surrada jogada em qualquer lugar. Então por favor, respeite o espaço em minha mente, e pare de desorganizar todas as minha ideias.

Eu ainda não entendo esta história louca com meu coração e todo este sistema nervoso que faz com minhas pernas se movam para lados opostos e desordenados, toda vez que você passa em minha mente. Engraçado tudo isso, o corpo tem essa mania estranha de nos mostrar, com atitudes, coisas que fazemos questão de não ver com os olhos.

Comecei está carta há mais ou menos uns três parágrafos e ainda não sei a forma exata de dizer tudo o que eu havia planejado dizer. Em linhas é sempre mais fácil colocar tudo isso, palavras repetidas são apagadas e substituídas sem que você as tenha ouvido, deixando qualquer besteira que eu diga, soando mais bonito que quando eu gaguejo e tento me manter em pé firme a sua frente.

Eu tinha algumas perguntas que eu queria que você me respondesse, tão bobas que tenho vergonha de faze-las. É sim, hoje em dia eu tenho vergonha de certas coisas que nunca tive antes com você. Ando tão tímido no que diz respeito a nós dois, tão fechado e chato ao ser questionado sobre o assunto. O seu nome eu rabisquei do meu vocabulário, faço questão de chamar as pessoas com apelidos e sobrenomes inventados só pra não me lembrar do que o seu significava para mim. Isto é outra coisa engraçada, afinal o seu nome eu nunca dizia, eu tinha uma lista numa folha, ao tamanho A4 (ou talvez um pouco maior) com todos os apelidos inimagináveis que criei para você. Claro que eu não te chamaria de qualquer um deles agora, mas está folha continua guardada, ao lado do arquivo de nosso primeiro beijo, que fica dentro de meu peito.

Acho que me tornei aquelas pessoas chatas, que invejam casais felizes, e vivem um momento deprimente no que diz respeito a si próprio. Minha redes sociais andam cheia de textos insignificantes e sem sentidos, que no auge de minhas noites sozinhos em uma cadeira dura e desconfortável, eu deixo fluir, só pelo prazer de não ir dormir, conseguindo assim evitar o dia posterior, e o dia que vem depois dele.

Não se preocupe, eu não ando com medo de viver o presente, ou o que cada dia tem a me proporcionar. É que comprei um calendário, e ele veio quebrado, os dias não são subtraídos de um ano, e sim somados a distância que estamos um do outro. Meio idiota este pensamento, mas é como tenho me sentido. Como se cada número a mais neste calendário, mal feito e sem um selo de aprovação, fosse a metragem de uma linha invisível que tem afastado nós dois. Preciso de um calendário novo.

Era para ser uma carta sobre nós dois, mas não consigo mais dizer nada sobre este assunto. Os meus INs e SUBs (porém todos conscientes), já deletaram está crença doentia sobre um final feliz ao seu lado. A falta que sinto de você é apenas sobre tudo de bom que vivemos, e sobre todo o gosto que tinha isso tudo. Engraçado, eu nem me lembro mais que gosto tem.

Eu descobri o que é paixão, não uma, nem duas vezes. Descobri que ela, realmente, é uma chama acesa queimando o que estiver a sua frente; um vento tornando-se furacão a cada colisão que o invade. É mágica, te da asas e faz com que você voe. É tão bonita que me faz acreditar que vale, e muito, a pena. Confesso que acreditaria, se eu não já tivesse conhecido este velho mal humorado e ranzinza, que gosta de empinar o peito e mostrar que é o dono do pedaço, este jovem descabeçado que não entende nada o que fala, mas mesmo assim fala e repete. Esta criança que precisa a toda hora estar com o outro porque não sabe andar sozinha. Este tal coisa, que alguns gostam de nomeá-lo de Amor.

Basicamente eu queria que você me reconhecesse, você passou grande parte da minha vida comigo, mas nunca pode conhecer o cara que me tornei. Eu queria lhe dar esta oportunidade, porque eu me tornei um cara legal. Um destes caras que são felizes sozinhos, que gostam de festejar a vida, que passa horas com seus amigos rindo das próprias piadas. Me tornei o cara com quem os amigos gostam de conversar, o escritor perdido na madrugada tentando de alguma forma colocar em linhas sentimentos que não lhe cabem no peito. Você não teve tempo de conhecer a melhor parte de mim, porque está parte, é totalmente você.

Algumas pessoas bobas, têm a mania de se comoverem quando conto nossa história. Eu não a acho tão triste assim, confesso que tenho lembranças amargas e feridas complicadas. Mas a nossa crônica é tão bonita, quando contada por um "escritor da madrugada" que não se importa com quem vai ler suas linhas. Nossa história faria pessoas chorarem, mas não por tristeza e sim por fazê-las lembrar que existe algo bom, e que elas fazem (ou ja fizeram) parte de uma destas crônicas noturnas.

Lembra que eu não sabia como começar está carta? Agora confesso que não sei como terminá-la. Quando é sobre nós dois eu nunca sei onde fica os pontos, virgulas e parágrafos. Você me desalfebetizou por completo, até as palavras que aprendi com meus 22 anos de vida somem quando penso em nós. É como se você fosse uma borracha, que apaga tudo em mim quando estou na sua frente. Resumindo, você é um grande ponto de interrogação em minhas redações.

Sobre esta carta, eu lhe peço desculpas, mas nunca foi para você. Desde o inicio, foi só para eu retirar do meu peito as dores que não sei mais como lidar. Desde que você se foi, eu nunca mais consegui sentir nada, na verdade consegui, mas todos estes sentimentos eu tirei de mim, e coloquei em linhas como estas,  permanecerão assim, até que eu possa colocá-las em um arquivo, ao lado da história de amor dentro do peito de um novo alguém.

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