Quebrando o Gelo
História de Ariane Ribeiro
Tudo começa com o frio. Não sou o tipo de garota que
demonstra certas fraquezas, pelo contrário, sou do tipo que mostra a sua força
mesmo quando não tenho mais de onde tirá-la. Tenho muita fé em tudo que diz a
respeito em ser e mostrar uma mulher forte, mesmo eu tendo a idade de uma
menina.
Tudo bem, calma, só preciso que vocês entendam o meu jeito de ser,
antes de entenderem o porquê desses detalhes serem importantes.
Mais um dia comum, os amigos reunidos com aquelas mesmas
piadas de sempre. Cada rosto ali, é familiar. Amigos que gostava de conversar
durante os intervalos de uma aula para outra. Sim a história começa no
colegial, e nele havia um garoto, o qual eu, ainda, não conhecia (pelo menos,
não pessoalmente).
Mãos frias, qual é o meu problema com elas? Não importa a
temperatura, elas sempre estão geladas. E eu sempre fui um pouco mais friorenta
que o comum. Não sou muito de reclamar disso, mas naquele dia, eu reclamei, em
voz alta. “Estou morrendo de frio”. E aquele rosto, ainda não conhecido, com
aquele sorriso de canto, olhou-me. E da forma mais abusada que poderia colocar
numa frase, disse que poderia me esquentar.
Eu deveria é sair de perto. Esses garotos sempre têm essa
mania de mexer com as meninas que eles acham bonita, e acabam fazendo com que
fiquem sem graça. Mas tinha algo que me intrigava nele. As minhas mãos, ainda
geladas, nada se comparava ao meu rosto, que agora estava fervendo. Não sou do
tipo de mulher que fica sem palavras, nem ele era o tipo de cara que não
soubesse usá-las.
Quer saber a verdade? Ele não ia me deixar sem graça, então
eu disse que aceitava. Aproximei-me dele e colocou aquelas mãos frias em sua
pele. Ele suspirou, ainda sorrindo (aquele mesmo sorriso torto e ousado), e
disse que minha mão estava realmente gelada, achei que tinha se arrependido. Mas
não. Ele tinha mesmo esse jeito de se gabar de tudo, e nessa hora, contou
vantagem por poder aquece-las para mim.
Confesso que eu gostava daquela sensação,
sua pele quente entre meus dedos frios. Mas com toda aquela timidez que não
precisava estar ali naquele momento, ele me venceu, e eu retirei as mãos
envergonhada. Ele nada disse.
Eu já conhecia a sua irmã, éramos amigas. Então eles me
acompanharam até a minha casa. Ela mais atrás, ele ao meu lado.
É estranho quando um desconhecido rouba um sorriso seu, mais
ainda quando rouba o segundo e o terceiro depois dele. E ele se mantinha assim,
ouvindo sobre minha vida, contando sobre a dele, e roubando cada sorriso tímido
e bobo que eu poderia oferecer. Ele, realmente estava empenhado em não me
deixar naquele frio.
Dia seguinte, dessa vez, eu não deixaria que ele me
ganhasse. Ao vê-lo, fiz questão de colocar aquelas mãos frias em sua pele. Ele
riu de mim, eu me sentia uma boba. “Ele não vai parar com esse sorriso?”. E não
parou, e o que havia sido uma quebra de rotina no dia anterior, hoje se tornou
algo corriqueiro, e lá estávamos nós indo embora juntos enquanto conversávamos
sobre nossas vidas.
Eu queria que ele soubesse o quanto eu me sentia em paz
estando ao seu lado. Não sou o tipo que deixa claro os sentimentos, nem do tipo
que se apaixona no segundo dia que está conversando com alguém. Mas ele, não
sei, tinha a pele macia, fez meu rosto queimar, sem nem me tocar. Minhas mãos
eram frias, havia um choque quando nossos dedos se cruzavam. Ei, espera, eu nem
percebi, e nossos dedos estavam lá. Cruzados.
Ele, tremendo ladrão, roubou-me sorrisos. E com aqueles
olhos me roubava toda a atenção. O mundo poderia esfriar por inteiro neste momento.
Uma velha árvore estava lá, era a nossa cúmplice, oferecendo sua sombra como um
abraço para dois tímidos, ousados, se chocando por completo. E eu sabia que ali
nada importaria, eu estava aquecida, estava presa a ele. E assim me mantive, até
que aqueles lábios quentes, tocaram os meus. Caramba, ele havia quebrado tanto
gelo.
Deitada nessa cama,
hoje, depois de quatro anos. Ainda me arrepio quando ele me abraça e deixa a
sua pele quente me tocar, quebrando cada frio que possa se aproximar de mim.
Ele, meu marido, ainda tem aquele mesmo olhar, o sorriso continua ousado e
ainda se gaba por ter feito a garota tímida estremecer com ele. Nunca fui do
tipo de garota que demonstra fraquezas, mas ele sempre foi o tipo de cara que
demonstrou ser minha força.
Meus dedos estão tão aquecidos agora.
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1 Comentários:
Linda a historia em jovem. Gostei hehe
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