segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Calmaria

Quanta gente espera o tempo que for preciso, até que um certo alguém decida que a felicidade é estar ao seu lado. Isso é uma grande besteira. O amor não pede tempo, nem fica naquela de “mas”. Ele vem e cura tudo, acalma tudo e deixa as águas mais calmas, mesmo tendo existido uma tempestade no dia anterior.


Eu, que nada sei sobre o amor, sei que ele é preguiçoso. Ele gosta de se deitar entre duas pessoas e ali ficar. Você pode achar que em alguma hora ele vai querer levantar e ir embora, grande engano o seu. Ele não tem pressa, ele é paciente e gosta de se manter deitado ali. Entre dois pares de olhos e mais nada. É como se existisse uma rede preguiçosa, e ele a pendura cuidadosamente em cada um desses pares.

Eu pediria por sua volta. Claro que é estranho exigir que algo permaneça com uma rede pendurada em seus olhos, e na de outrem. Mas sejamos francos, todo mundo precisa, ao menos um pouco, de uma dose desse preguiçoso sem tamanho. Porém, você já se foi, e eu não teria onde pendurar o outro lado dessa rede.

O carinho é parte do que ele oferece. A preocupação é como se fosse a movimentação que ele faz enquanto dorme. Vira para um lado, volta para o outro, até encontrar uma posição que esteja perfeita e não o incomode mais. Ele gosta de dormir de bruços, agarrado com dois travesseiros e sem luz nenhuma acesa. É por isso que precisamos de olhos fechados num beijo, porque essa é a hora que ele começa a sonhar.

No sonho, o amor idealiza, ele faz tudo acontecer. A coisa com os sinos tocando e fogos de artificio, isso tudo é a mais pura verdade. Sonhada e reinventada todos os dias, a cada beijo, a cada sonho desse preguiçoso. Ele deseja a vida ao lado desse certo alguém, deseja as dores de cabeça, as manhãs com café na cama, os abraços no fim da tarde, a toalha molhada em cima da cama. Ele deseja o sim, o “felizes para sempre”, ele sonha muito.

E eu pediria por sua volta, mesmo você já tendo ido embora. Não por mim, mas por esse meu amigo que insiste que precisa de outro alguém para poder descansar. Eu diria que esqueci todos os problemas e brigas, diria que não me importo com você falando no meio do meu programa favorito, nem ligaria de você esperar que eu me levantasse para poder fazer o café da manhã. Juro, eu não me importaria com nada disso, se isso pudesse pôr o meu amigo de volta em seu sono calmo.

Mas o meu amor acordou, faz algum tempo que isso aconteceu. Agora ele está desperto, olhou as cores do dia e ali ficou. Meu amor estendeu uma rede, dessa vez não-preguiçosa, diante de meus olhos e percebeu o quão lindo é sonhar com estes abertos. Meu amor despertou, e agora não quer mais voltar pra cama.

Aquele amor de sono calmo, não vai mais dormir. Ele tem medo do tempo passar e ele perceber que ficou de olhos fechados em cada segundo do que era a sua vida. Meus amores morreram por sedentarismo, por preguiça de prestar mais atenção ao que era e o que não era seguro para pendurar as suas redes. Meus amores, simplesmente, caíram porque não quiseram levantar mais cedo num dia de chuva.

E eu pediria sim por sua volta. Uma, duas, três ou quatro vezes. Porém em todas elas eu estaria alimentando algo que nada tem a ver com o amor que existiu entre nós. E sim com o meu ego de não ter percebido que estávamos acabados e que você notou isso antes de mim.


O Amor gosta de se deitar na calmaria.
E sempre fui de muita turbulência.

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