segunda-feira, 13 de julho de 2015

Um café e um amor


Um café e um amor bem quente, por favor.

Não é sobre o amor ou, pelo menos, não só sobre ele. Hoje eu quero falar sobre o café. Sobre a temperatura do mesmo, o gosto, o cheiro e como ele fica preso na sua boca horas depois de ter sido consumido.

A coisa começa pelo cheiro. Estamos acostumados a se sentir atraído por coisas que nos causem bem estar. O cheiro é uma delas. Um bom perfume pode te fazer desejar muito mais do que um simples "consumir algo", mas também o de torná-lo seu. O café está na coador, passando do filtro para a chaleira, o cheiro é forte, a vontade impregna na nossa pele, e a gente nem sabe o porquê disso.

Eu gosto de café, e espero que você também goste, porque ele será o começo de qualquer momento que possamos passar juntos. Não existe, na minha concepção, uma maneira de ser feliz ao lado de alguém, se este não souber apreciar o bom gosto e cheiro do mesmo.

Por falar em gosto. Eu gosto dele bem forte, doce e quente. Mas não um pouco quente, eu diria: fervendo.

O café quando acaba de ser feito, tem uma mágica que só é descoberta pelo seu paladar apurado. Ele pode queimar, sim senhor. Mas também pode gerar um prazer, apenas seu, naquele momento único em que navega por dentro de você. Ele queima a sua língua, mergulha em sua garganta e despeja o sentimento bom em seu estômago.

Não que eu queira falar de amor, mas isso não é uma receita de um bom café. Na verdade, essas duas coisas não precisam de receita. Afinal, a diferença de sabores está nas mãos de quem o prepara, e para quem ele é preparado.

A minha mãe faz um café leve, um pouco doce e quente. Do tipo de quem cuida com todo o carinho. Meu pai faz um café forte, não gosta de adoçar, e quente. Do tipo de quem protege. A moça do hospital, faz um café pronto, na cafeteira elétrica. Sem açúcar, com um gosto bom. Do tipo que agrade a qualquer um.

O meu café é forte, bem doce e quente, diria que ele é servido fervendo. Meu café não tem um gosto de calmaria, ele tem gosto de pressa, selvageria e desespero. Meu café tem a proteção do meu pai, o carinho da minha mãe, mas não é do tipo que agrada a qualquer um. Afinal ele não foi feito para estes.

Eu gosto desse tipo de café, fervendo. Gosto desse com gosto que fica na boca por horas, dias e continua a queimar depois disso. O meu café não é para ser bebido em grandes goladas. Ele enche uma xícara, e isso é o suficiente para te deixar satisfeito. Porém eu não gosto de xícaras, gosto é de copos grandes e de goladas. Isso é um grande problema aqui.

Quanto ao amor, bem, ele não tem muita diferença do café. Ele vem fervendo, forte e com gosto doce. Não precisa mais do que uma xícara para te deixar satisfeito, porém eu vou lá, encho um copo inteiro e tomo de uma vez. O problema, é que ele só começa a queimar na minha garganta, e quando desce pro meu estômago é em forma de dor, esquecendo do meu prazer. O problema está em quem o prepara, e para quem ele é preparado.

Quando esse cara aqui vem e começa a falar de amor, tudo desaba. Todo mundo sai correndo e se desespera. Ninguém quer queimar nada, nem deixar mergulhar em sua garganta. Amor tem gosto que fica na boca por dias, meses e anos. O café pode até sumir, mas o amor não. Ele apenas muda de lugar, mas permanece em quem o preparou, mesmo não tendo em vista para quem ele foi preparado.

Não vale a pena dizer que você quer um café quente se você não estiver disposto a queimar sua língua. Porém cafés mornos nunca foram tesão para o paladar de ninguém. As coisas, quando estão fervendo, é que fazem a diferença. Mesmo que você, assim como eu, prefira beber em goladas, ao invés de ter calma.

Então eu digo a você: se eu encher a sua xícara com um pouco do meu café, bem forte, doce e quente, você vai apreciar cada detalhe dele, ou beber de uma vez e acabar com tudo?

Eu tomo em goladas, mas gosto de apreciar quando ele é bem feito. Porque essa é a única forma de se apreciar um bom gosto.

Não é um texto sobre amor. Nem sobre como ele é feito. É tudo sobre o café e como ele é servido.

Então, um café e um amor bem quente e que queime a minha língua, por favor.

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2 Comentários:

Às 13 de julho de 2015 às 18:09 , Blogger Luiza Lamas disse...

O que dizer sobre esse texto? Eu simplesmente não tenho palavras e acho que ele veio para mim na hora certa. Meus parabéns pelo seu talento em expressar sentimentos através da escrita, de verdade!
Um beijo, estou seguindo aqui~
Choque Literário

 
Às 15 de julho de 2015 às 23:39 , Anonymous Poly disse...

Gostei de verdade do seu texto. A comparação do amor com o café.
Foi muito bem bolado. Você teve uma ótima sacada e sua escrita é muito boa.
Um texto cativante e que nos prende até o final.
Sucesso!
Bjuxxxxx

PS: gosto de café forte e sem açúcar ;)

 

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