segunda-feira, 2 de março de 2015

Paredes Azuis


Deitada de costas para ele. Olhando para a parede azul daquele quarto. Dali dava pra ver um pouco do guarda-roupas ao lado acima de sua cabeça, a porta que dava para o corredor estava abaixo de seus olhos, e a frente só havia a parede azul. Bem diferente do castanho dos olhos dele.

Deitado de costas para ela. Olhando para a parede azul de seu quarto. Sabia onde estava o guarda-roupas, sabia que havia uma TV desligada se mirasse os olhos para baixo, e que a frente só restava essa maldita parede azul, o desafiando a se virar.

Não estavam brigados, nem ao menos houve uma discussão. Mas ainda assim evitavam o olhar. E isso não era novidade naquela noite, fizeram isso o tempo todo. Conversaram, brincaram um com o outro, mas nunca se olhavam diretamente nos olhos. Tinham medo disso.

Ela estava completamente apaixonada por ele. Ele, bem, ele tinha muito mais medo do que ela a respeito disso, estava apaixonado mas não queria dizer isso para si mesmo. 

Ela tenta, movimenta-se, coloca o braço próximo ao dele. Ele se recolhe, fica sem saber como agir. Passa meia hora e coloca a perna próxima a perna dela. Ela se encolhe, fica sem saber como agir. E ali brincam de querer e fugir por algumas horas.

- Feia!

Ele diz do outro lado. Ela sorri, mas não se vira.
Caramba de garota complicada, tímida e sem jeito a essa hora da madrugada, como se fosse a primeira vez que fizessem isso.
Hipócrita, você é o homem aqui, por que diabos está com medo dela?

Ele tenta da outra forma. Vira e meche no cabelo dela. 
Ela sorri, mas não se vira.

A coisa começa a se complicar, ele não sabe ao certo se ela quer estar ali ou não. Sabe que se gostam, mesmo nunca tendo dito isso em voz alta a ela e ela fazendo o mesmo. 

A sua mão escorrega do cabelo dela, e agora em sua cintura aperta um dedo, fazendo com que cócegas aconteçam ali.

Ela ri alto, e agora se vira.

Ele perde todo o jeito, a garganta engasga e quer voltar correndo a olhar aquela parede azul. Porque o azul dos olhos dela é complicado demais para ele. Ela concorda com aquele castanho que te olha, e se pergunta mil vezes porque ama um cara tão bobo assim.

Deitada de frente para ele. Olhando para o castanho daqueles olhos. Dali dava pra ver um pouco do que ele tentava esconder, mas estava acima de sua testa, escrito bem grande. Se olhasse abaixo, saberia que ele queria mais que só tê-la dormindo em sua cama. E a frente só havia aquele castanho, e era tudo que ela queria desde o começo.

Deitado de frente para ela. Olhando para o azul de seus olhos. Se olhasse acima deles, veria que ela busca toda a felicidade naquele momento, era isso que tinha para oferecer. Se corresse os olhos abaixo, saberia que eles se pertenciam desde o começo. E a frente só havia aquele azul, o desafiando a voar.

Não eram namorados, nem ao menos entendiam essa paixão.
Mas havia um pulsar, e eles sabiam de onde vinha.

Merda de paredes azuis.

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2 Comentários:

Às 3 de março de 2015 às 15:50 , Blogger Bruna Pedrosa Guedes disse...

É lindo *-*
Parabéns ;)

 
Às 29 de março de 2015 às 14:36 , Anonymous Anônimo disse...

eh gstoso de ler e sentir-se sei lá como *-* <3

 

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