Devolvo as memórias...
Lembra quando nos conhecemos?
Você riu da minha forma de andar, e eu achei estranho aquela
sua camiseta com uma bandeira desenhada nela. Não que as pessoas sejam proibidas
de idolatrar outras pátrias, ou qualquer coisa do tipo, só achei interessante o
contexto. Mais tarde eu saberia que era mais um objeto de “moda” do que algo
referente a algum país.
Você não falou comigo, mas sei bem que queria segurar minha
mão. E depois de algumas conversas, você o fez. Fiquei me perguntando se isso
aconteceria e como seria se acontecesse. E por mais que eu tivesse criado mil e
uma possibilidades em minha mente, nenhuma delas era páreo para aquele seu
sorriso de dentes pequenos, o olhar miúdo e o jeito doce de falar que você usou
antes de tocá-las.
Ali, eu tive certeza que era amor. Somente ali, em nenhum
momento antes ou depois daquele minuto. Foi naquela hora que eu soube e disse a
mim mesmo “agora tudo vai começar a fazer sentido”, eu estava certo.
Foi amor quando você me abraçou pela primeira vez. Sem
jeito, um pouco mais alto que eu e desajeitado em meio a tudo aquilo. Era
tímido sim, mas escondia uma necessidade que queria escancarar toda uma
vontade. Aquele abraço falava por nós dois e nele eu tive a certeza que seria
você com quem eu passaria todos os meus dias.
Engraçado todos esses detalhes que nunca sumiram e nem vão
parar de dançar em minha mente. Já faz algum tempo desde o nosso último “vamos
fazer dar certo dessa vez”, mas nada mudou em questão disso. Continuo
despreparado para enfrentar um mundo com você e você, bem, eu tenho certeza que
continua com aquela mesma mania de gritar quando não concorda com algo.
Sobre o amor, não sei como ele funciona. Mas sei que ele
funciona.
Não faz sentido algum toda essa história. Muito menos
sentido me questionar sobre meus erros e nem sequer querer saber sobre os teus.
Sempre fui assim não é mesmo? Querendo consertar até quando não fui eu quem
quebrou, esse é meu jeito de fazer as coisas.
Eu queria que você me devolvesse as coisas que ficaram com
você. E não estou falando daquelas que ficavam em cima daquela estante no seu
quarto. Falo das coisas que me pertencem, mas nunca pude pegar de volta. Pra
começar, queria saber onde está minha razão, a perdi há muito tempo atrás,
quando encontrei os seus olhos pela primeira vez.
Eu gostaria muito, que você me devolvesse as certezas.
Deixasse com as clarezas e crenças que todas as coisas podem, e vão, dar muito
certo. E quando você me entregasse meu pacote de certezas, eu lhe devolveria um
pacote cheio de medos que você deixou aqui comigo. Isso não tem serventia pra
mim, mas vive ocupando espaço em um canto do meu quarto, e eu não consigo jogar
fora.
Eu queria que você me devolvesse o tempo. Os minutos em que
senti sua falta, as horas e dias que esperei você voltar e fazer de tudo aquilo
apenas um sonho ruim que iria ficar no passado. Mas olha que coisa mais injusta,
você não voltou e a única coisa que ficou no passado foi aquela sua camiseta
desenhada com a bandeira de um país.
Caramba, eu nem sei porque você vem a minha mente toda as
vezes que essas coisas acontecem. Toda vez que quebro algo, é como se eu
apontasse o dedo no seu rosto e te culpasse por tudo isso. Porque afinal foi
você quem me deixou assim. Sei que grande parte disso é culpa minha também, mas
me sinto melhor em dizer que Só você que estragou tudo.
Eu queria que você me devolvesse tudo isso. Que me
devolvesse o dia que não falou comigo, mas quis segurar minha mão. Devolvesse o
sorriso tímido que mirou em minha direção e me fez ser seu dali em diante. Os
seus olhos pequenos, lhe pertencem, eu sei, mas aquele brilho era somente meu,
e eu o quero de volta.
Eu queria que você de me devolvesse todos os dias.
Devolvesse-me todas as memórias.
E me devolvesse o “agora tudo vai começar a fazer sentido”.
Porque faz muito tempo que nada orna com nada, e continua
sem combinar a cada passo que nos distanciamos um do outro. É tão complicado
fazer sentido, quando nada mais parece certo. Nem mesmo parágrafo se encaixa em
parágrafo numa mesma história, tudo fica desorganizado.
Eu sei, pode parar de fechar essa cara, e agir como se eu só
estivesse dizendo bobagens. Eu sei o quê tudo isso é. E sei que não faz
diferença alguma. Mas ainda sim faz falta dizer.
Caramba, nem sei onde cheguei com toda essa história. E nem
sei pra onde vamos se eu continuar daqui. Eu gostaria somente que você
respondesse as minhas perguntas, e então devolvesse o que me pertence. Mas
parece que me perdi, novamente, eu sei.
Nunca consigo falar sobre você, e nem ao menos gosto de
fazer isso. Você se lembra quando eu te disse que deveríamos ser namorados? E
você sorriu insistindo que era tudo o que mais queria na vida. Lembra quando
Frejat tocava uma música somente nossa, e que só teve sentido quando nos
encontramos? Caramba, você lembra que gostava de me ver de chinelos e bermuda,
porque gostava de pensar que eu estava à vontade contigo?
Ei, você se lembra da praia? Da lua? E quando, depois de
toda a mágoa, disse que me amava?
Você se lembra de nós dois?
Lembra o porquê chegamos aqui hoje?
Você se lembra que eu nunca quis ser mais do que tudo que éramos?
E mesmo assim você insistia que devíamos tornar tudo aquilo ainda mais sério.
Com um cachorro e duas crianças.
Caramba, eu me lembro de tantas coisas agora.
E só gostaria de saber se você se lembra de quando nos
conhecemos.
Porque já faz tanto tempo que não te conheço mais.
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