terça-feira, 19 de junho de 2012

O Homem que nunca Mentiu

O relógio despertou as 7:00h, como de costume, levantou e foi se lavar, olhou no espelho e viu algumas olheiras fundas em seus olhos, ainda sem suas roupas, nunca gostou muito de dormir com elas, caminhou para cama, ao se aproximar viu que a garota ainda estava deitada ali. Aqueles cabelos longos e negros se espalhavam pela cama, as cobertas desenhavam as curvas de seu corpo, ainda dormindo, ele pode observar o quanto linda era aquela menina, deveria ter seus vinte e poucos anos, talvez mais jovem, talvez mais velha, o que importava agora?


Ele sempre se pegou em sonhos e lembranças que nunca saíram de sua cabeça. Desde pequeno aprendeu que a verdade era o que moveria sua vida, então assim viveu. Teve algumas namoradas que não souberam lidar com isso, afinal ele não iria dizer que aquele vestido era bonito só para agradá-la, nem que tinha se lembrado da data de namoro sendo que, realmente, tinha se esquecido. Foi acusado algumas vezes como insensível,  enquanto tudo que teve a oferecer foi a verdade.

Por acreditar tanto na verdade, foi enganado algumas vezes. Não tinha o porque mentir, então pra ele as pessoas agiriam da mesma forma, mas aí que aconteceu seu maior engano. Não foi um momento feliz e não foi como ele esperava que acontecesse, mas foi assim que escreveram na sua vida.

Ela era jovem, talvez três ou quatro anos mais jovem que ele. Se conheceram em um dia bobo desses, em que você não espera encontrar nada na vida, então veste a sua roupa mais feia, seus chinelos de dedo e vai na padaria comprar algo de diferente só para o dia não ser a mesma coisa do anterior. Se esbarraram meio que sem querer, ela não o conhecia, mas ele sabia bem quem era ela. Com um sorriso desajeitado se desculpou com a garota, ao mesmo tempo que desejava dizer mais coisas a ela. Esta por sua vez o olhou de um jeito diferente do convencional, sabe quando seus olhos avaliam todo um projeto sem sua cabeça se mover do lugar? Foi mais ou menos assim. Ele um pouco tímido com isto saiu rapidamente de cena.

Nunca foi bom com as palavras, mas o que tinha de errado em falar algo sincero pra alguém? E isso o motivou a encontrar aquela garota novamente. Talvez ela soubesse quem ele era afinal, ela o olhou de uma forma subentendida, meio misteriosa e traiçoeira. O tipo de olhar que esconde coisas que te deixam intrigado a descobrir muito mais sobre elas. Talvez fosse o que ele já sentisse antes por ela, ou talvez aquele olhar queria realmente lhe dizer algo. Agarrou-se a este pensamento e resolveu falar com ela.

Das palavras que saíam da sua boca, muitas se misturavam e ficaram sem sentido. Disse a ela o quanto estava nervoso com aquilo, que não sabia mais como dizer, então tudo que podia fazer é dar-lhe as verdades do que sentia. Ela se assustou por um momento, mas não era uma garota, sim uma mulher, não cairia naqueles velhos truques e palavras forjadas novamente. Seus olhos diziam o quanto ela queria, mas a sua boca insistiu em dizer que não passaria daquilo e que nada aconteceria. Ele sem entender o porque dela se proteger de suas palavras, resolveu aceitar a verdade das duras palavras dela, mas esqueceu de vê-las em seus olhos.

Depois de alguns anos aprendeu que sozinho era o melhor a se fazer, já foi rotulado de alguns nomes, pelo fato de não querer mais se envolver, deixava isso muito bem claro em cada palavra que saía de sua boca. Em uma dessas noites, em que saímos para nos distrair com amigos, ele a viu novamente. Ela agora estava diferente, seus cabelo negros contornavam cada curva de seu corpo, como se dançassem em suas costas, o vestido a deixava ainda mais desejável, não por um coração apaixonado e sim ao olhar de um artista que aprecia uma bela pintura. 

Desta vez tentou fazer de forma diferente, desta vez o Homem que nunca mentiu, resolveu tentar de outra forma. Ao se aproximar viu que a garota o reconheceu, com um sorriso simpático o cumprimentou. Seu coração acelerava tanto que parecia que iria voar de sua boca, suas pernas balançavam para todos os lados, mas respirou e então o fez. Foi o mais sincero possível com ela novamente, disse que ainda sim queria poder dançar aquela música ao seu lado, que ela era uma linda mulher agora. A garota foi conquistada pela sinceridade que um dia ela recusou e então permitiu se entregar a ele.

Agora pela manhã ele se lembra que em toda sua vida só agiu com a verdade e que isso o manteve sozinho, longe de quem ele queria a tanto tempo. Essa foi só mais uma noite, só mais uma garota, com a qual ele disse toda a verdade, suas palavras foram sinceras. Mas ele fez algo de diferente naquele dia. Mentiu que não se importava, mentiu que não se sentiu magoado e melhor que tudo isso, mentiu pra si mesmo que aquela garota era só mais uma que se deitava ali. E agora quando ela se levantar e for embora, seguirá mentindo que não vai sentir sua falta.

E ao atirar-se neste precipício, percebeu que a verdade ainda é sua razão. A mentira lhe faz alcançar momentos alegres, mas que nunca serão duráveis e nem sustentáveis nesta busca por felicidade. Mas infelizmente agora o que tem a fazer é somente cair.

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