quarta-feira, 10 de abril de 2013

Um brinde para nunca crescermos

Sempre que eu vejo aquela gente grande correndo de um lado para o outro, me pergunto se isto acontecerá comigo, então percebo que já aconteceu, porém continuei a brincar de ser criança. Sentir e viver como se o mundo fosse um enorme castelo, habitado por dragões e monstros que querem me pegar, onde tenho que erguer a minha espada e lutar com todos eles. As vezes a fantasia nos faz falta.



1, 2, 3... terminando a contagem ele descobriria os olhos e sairia em busca de cada um deles. Claro que estariam escondidos atrás de qualquer carro estacionado na rua, ou então atrás de alguma árvore que os protegessem contra os os olhos de seu amigo. Havia sempre um lugar estratégico, aquele que ninguém  encontraria, ou então um que fosse fácil de se encontrar, mas no susto não deixaria que te pegassem, atingindo o limite antes do "procurador" e continuando salvo para a próxima rodada.

Um grande castelo se ergue em meio aquele reino. As torres podem ser vistas a quilômetros de distância, é rodeado por lavas, onde habitam enormes dragões. Estes querem destruir os muros e entrar na sua cidade, mas você é um Rei, mais do que isso, você é o protetor daquelas pessoas. Erguendo sua espada enfrenta os dragões, eles soltam gritos estridentes, seguido deles, enormes bolas de fogo vêm em direção ao castelo. Você poderia protegê-lo, mas hoje o chão de lava se tornou apenas o piso abaixo do sofá, as torres se encontram no chão em forma de almofadas.

- Eu preciso me proteger.
Foi o que disse quando se encontrou naquela escuridão, por mais que estivesse com o grande Urso Guardião de Pelúcia, ainda tinha medo daquilo que habitava o submundo abaixo de sua cama. Algo com garras poderia estar ali, uma enorme mandíbula, talvez se rastejasse, talvez corresse mais veloz que um guepardo. Tudo o que pensava era que não poderia se proteger sozinho. Mas ela estava la. O beijo da Grande Matriarca, fez com que um escudo se formasse sobre o herói, deixando o mundo obscuro de lado. Porém agora ela está distante, e nem o seu guardião está do seu lado. O Submundo mudou de lugar, e as criaturas que habitam la fora são piores que as antigas, elas são reais. 

Os cavalos mais poderosos se encontravam nesta corrida, mas o dele era o grande Trovão Negro. Seus adversários poderiam tentar alcança-lo, mas ele sempre venceria, ganharia o grande prêmio, melhor do que isso, ganharia a atenção da linda donzela que o aguardava no fim deste torneio. A mais bela de todas, filha do grande capitão, encantava a todos os cavaleiros com sua beleza, mas será dele, porque é por ele que o coração dela bate, o amor verdadeiro venceria sempre. Porém agora o grande torneio terminou, as donzelas agora ignoram o grande vencedor, Trovão Negro foi substituído por uma máquina de rodas mais potente e veloz.

Um velhinho entrará em sua chaminé, roubará alguns biscoitos, mas oferecerá um lindo brinquedo em troca. Ele queria passar a noite acordado, queria vê-lo, queria correr e contar a todos que o bom velhinho esteve em sua casa, que o deixou voar em seu trenó. O sono o consumiu e quando acordou estava apenas sozinho mais uma vez em sua casa, os moveis desorganizados e os presentes amassados. Feliz Natal bom velhinho.

Era um enorme navio, suas velas se formavam em cores verdes, contrastadas pelo desenho de uma enorme caveira em sua bandeira. Toda a tripulação o respeita, é o mais temido de todos os mares, sua barba alcança o chão em cores azuis. Sua perna esquerda foi substituída por um pedaço de pau, enquanto em seu ombro uma ave de cores engraçadas sussurra coisas em seu ouvido. Mas tudo acabou quando o horário de se enxugar e sair do banho chegou.

Fadas, Monstros, Duendes, Castelos, Mapa de Tesouros, Cavalos, Bom Velhinho, Sonhos, Crenças, Histórias... Misturei todos em um copo e tomei, mas antes de engolir os mastiguei, estraçalhando-os em mil partes. Hoje vivem dentro de mim num lugar que chamei de "Memória". A vida passou, o tempo mudou, os dragões agora têm outra forma, os mares que navegamos são de águas turbulentas. O bom velhinho não veio mais me visitar. Mas no fim, ainda consigo acreditar.

Já brindei à vida, vivenciei a juventude, batalhei como um adulto, mas sempre amei como uma criança. O mundo pode mudar, todos pararam de ver, mas eu ainda conseguirei enxergar. Os drinks agora têm gosto amargo, mas ainda posso brindar e de todos os brindes que eu fizer, o mais feliz será aquele que nunca me deixará crescer.


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