segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Unica Exceção

Abriu os olhos então a única coisa que pode ver foi o rosto dele enquanto dormia. Era bonito, ainda mais quando os pequenos dedos daqueles raios de sol acariciavam sua face. Parecia sorrir enquanto dormia, mas não poderia haver exceções, mesmo que o sorriso fizesse com que um sentimento bom passasse por aquela garota. Sentimento, palavra fácil de se pronunciar, difícil de se compreender. Uma palavra que é apenas dita, sem se contar o número de vogais ou consoantes que compõe suas sílabas, escorre de sua boca e é lançada, sem ser justificada.


Sentimentos, de forma genérica, são informações que seres biológicos são capazes de sentir nas situações que vivenciam. Encontramos alguns exemplos como o Medo, a Alegria, a Tristeza, o Orgulho, entre muitos outros. Mas hoje falaremos de um em especial, aquele que a fez continuar deitada enquanto olhava para o garoto que dormia ao seu lado, desejando que houvesse uma exceção. Que a envolve-se e prende-se sua atenção, que fizesse as sensações se elevarem a níveis desconhecidos de seu corpo. Que a fizesse tremer enquanto se sentia aquecida, fizesse uma lágrima escorrer enquanto sorria.

Experimentou o doce gosto do amor que um dia lhe ofereceram, era gostoso, encaixava-se perfeitamente em seu paladar. Navegou por cada parte de seu corpo, escorregou por sua pele enquanto sussurrou coisas em seu ouvido. Tinha um cheiro bom, talvez de rosas, poderia dizer que cheirava a terra molhada, ou a maçã, a verdade é que o seu odor a levava a mais belas lembranças de sua vida. Era lindo, sua imagem tinha uma beleza que só explodia ao seus olhos, brilhava feito uma pequena estrela, pulsando sobre sua janela.

Um incêndio não costuma avisar quando ira se iniciar, nem lhe deixa claro o que ira queimar, nem o que você perderá com isso. Pode começar com uma pequena faísca e se alastrar por todo os cantos do quarto, varrendo a sala, dominando a cozinha, por fim destruindo toda a casa. O Amor a queima. Mas não destrói apenas a cama onde se mantém deitada olhando para aqueles olhos, queima todo o apartamento, talvez, até o prédio. Destrói seus sonhos, o doce se torna amargo, o ruído é estridente, tudo que se ouve são gritos. O cheiro é de fumaça, a visão embaça. A sua pele queima, ardendo, destruindo. Não há exceções, todos queimam.

É melhor se curar destes ferimentos sozinha. O Amor ainda estaria gritando em seu peito, porém responderia apenas ao seu próprio nome. Acariciaria a própria pele, ouviria sua própria voz. O gosto seria das frutas que sempre gostou de comer, dos vinhos que sempre gostou de tomar, seriam doces e amargos que ela mesmo decidiria. O cheiro seria de alegria, de amigos, de sorrisos escandalosos e choros tímidos. Os olhos veriam apenas um espelho, onde o "Eu" seria o alvo de todo a sua preocupação, alvo de sua admiração. Ouviria tudo, apenas seu coração seria exceção. Este ainda não havia percebido que o fogo de um amor que vem de fora queimaria sempre sua pele.

Por mais que tentasse, nunca acreditaria que as paredes pudessem ser revestidas de um material não-inflamável. Novo institores não a faria perder o medo de um novo incêndio. Era mais seguro assim, manter o causador dessas chamas preso dentro de seu próprio peito, para que pudesse queimar apenas a vontade de se entregar. Queimar apenas as suas esperanças, suas crenças que alguém poderia ser o abraço que a protegeria de toda a fumaça. Os gostos se tornavam amargos, a visão embaçada, o toque sem sentido, o cheiro a fazia espirrar, por fim, ouviu um ruído, seu coração gritava em meio as chamas.

Era um fogo diferente, não fazia sua pele doer. Entre a fumaça conseguia ver aquele sorriso de um rapaz que dormia ao seu lado, enquanto sua pele era tocada pelos raios de sol. O cheiro era de sangue que pulsavam rapidamente em suas veias, cheiro de terra molhada, cheiro de maçã, era um cheiro muito mais agradável. Não era como os cheiros de lembranças, era um cheiro de esperança. Era isto, o fogo que ardia agora não queimava nem consumia sua vida. Era algo como um renascer de cinzas, uma chama que queimava seus medos.

Continuava ali deitada, reparou quando ele abriu os olhos. Agora tudo que via era o brilho das chamas que ali reluziam, era um brilho vermelho vivo, que esquentava toda a sua vontade de continuar deitada ali, enquanto todas as paredes se queimavam. Olhando-o viu quando se aproximou lentamente de seu corpo, tocando cada detalhe de sua pele. Seus lábios tocaram os dela, agora tinha certeza, era realmente um gosto doce, porém picante. Suavizava cada toque em sua língua, enquanto ardia sua pele e queimava todo seu corpo. Ouviu muitas coisas neste momento. A parede que se queimava deixando-a ser livre, o coração que pulsava cada vez mais forte, mas por fim tudo que ouviu foi a voz em sua mente que dizia: Ele é sua única exceção.


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