terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Doce Cúpido

Os rastros do sangue escorriam desde a porta e se estendiam por um pequeno quarto. Em um colchão coberto por um lenço branco - que agora se encontrava vermelho pela espeça mancha que escorria em suas dobras - encontrava-se uma garota. Deitada de forma que suas costas ficaram para cima, seus cabelos louros encontravam-se manchados, combinando com as tonalidades que haviam se espalhado por todo o percurso. Em suas costas, o motivo era evidente, pequenas asas brancas se estendiam, o vermelho se misturava a suas penas, deixando claro que ali acabara de nascer um anjo.


É como ganhar um peixe em um aquário. Um presente incrível, porém só se manterá vivo se você se dedicar e assumir este compromisso: cuidar de sua vida. Ela tinha agora que assumir está responsabilidade, entregaria o pequeno presente para uma criança que aprenderia a cuidar e a amar cada dia mais. O pequeno peixe encontraria alguém com quem compartilhar suas alegrias, ela entregaria o peixe a este alguém. Que o amaria tanto ao ponto de buscar a razão de sua vida dentro de um mesmo aquário. 

O arco se fez divino, em um súbito brilho surgiu entre seus dedos. Claro que nunca manuseou arma alguma, era apenas uma garota que amava demais e via nisto a grande força de sua vida. Dedicou cada um de seus dias para fazer dos que estavam a sua volta felizes. Mas foi só questão de tempo, sua vida era prometida para feitos maiores, conseguia compreender isto agora com o instrumento em sua mão. O manuseava perfeitamente, os tiros eram precisos, as flechas surgiam em seus dedos conforme flexiona o arco. Assim fez Doce Cúpido. Cada ponta de flecha deslaçaria as rédeas que prendiam o coração, entregando-o ao merecedor de seu amor, este que estaria diante de seus olhos no momento certo.

Duas garotas caminhando sozinhas numa madrugada, seus longos cabelos louros e suas vestimentas mostravam que eram de boa família. Uma delas chora por um amor destruído, se lamenta por todos os erros que cometeu, mas as lágrimas se tornam sorrisos conforme a amiga a conforta falando qualquer coisa aleatória e a entretendo durante todo o percurso. Os pensamentos divagam em suas mentes, e num súbito momento de euforia seus olhos se encontram, como uma loucura presente, uma vontade voraz, o beijo acontece. O Doce Cúpido sorri, sua flecha acertou o coração machucado.

Um rapaz cabisbaixo, tentando entender o que lhe falta. Era um empresário de sucesso, mundialmente reconhecido. Sua família se sentia orgulhosa por suas conquistas, porém o mesmo se encontrava ali, sozinho, caminhando mais uma vez de volta para casa. Uma garota feliz, do tipo que contagia a todos, que se rodeia por pessoas que a amam e a querem bem, porém em algumas noites frias sentia a falta de um braço em volta de seu corpo, protegendo-a e fazendo dela a garota feliz por ser de alguém. Enquanto caminham em direção opostas seus olhos se encontram, em um brilho sente algo explodir. Ele oferece a mão sobre o seu rosto, ela se entrega ao beijo apaixonado. Doce Cúpido mirou dois peitos, sua flecha se prendeu a eles.

Em uma grande festa, uma mesa de bar, andando sozinho pela rua, no emprego enquanto escuta o grito de seu chefe, as vezes comprando um refrigerante, outras vezes abraçando um amigo. Doce Cúpido cumpria sua missão, suas flechas não cessariam. O amor motivaria, a envolveria e quebraria todas as barreiras que fossem impostas. A amiga de anos de uma garota, a garota que nunca viu aquele rapaz, o rapaz que nunca sentiu nada por seu melhor amigo. Era o instrumento do amor, com ele curaria cada ferida, faria delas dores do passado, curaria com amor tudo o que o amor feriu. 

A responsabilidade era grande, mas a satisfação era maior. Enquanto curava as dores de amores, estourava cada uma das rédeas que prendiam os corações, percebeu que se amarrava nisto. O sorriso no rosto do Doce Cúpido agora lhe fugia a face. Os amores a sua volta poderiam alimentar a sua felicidade momentânea  mas ela precisava mais do que isso. Seu peito agora doía, curou tantas dores do amor, que agora se via vítima desta doença. Criou o antídoto para um veneno, mas não esperava tomar a dose do mesmo. 

A flecha surgiu entre seus dedos, o arco não se fez necessário. Olhou para sua ponta, em seu peito algo tentava pulsar, mas continuava preso ali. Fechando seus olhos e usando de extrema força fez um movimento, rodou a flecha sobre seus dedos e a cravou em seu coração. Era o fim de Doce Cúpido, suas asas se recolhiam e o sangue escorriam de seu peito pelo chão em que agora se encontrara.


Os rastros do sangue escorriam desde a porta e se estendiam por um pequeno quarto. Em um colchão coberto por um lenço branco - que agora se encontrava vermelho pela espeça mancha que escorria em suas dobras - encontrava-se uma garota. Seguindo este percurso um rapaz preocupado se propôs a procurar, e ao chegar no quarto se surpreendeu. As manchas de sangue secavam e o peito da garota se encontrava intacto, era a imagem mais bela que já vira, loura de pele clara, poderia dizer que era um anjo. Ainda mais agora, enquanto seus pequenos olhos azuis se abriram em sua direção, encontrando-se com os dele.

É como ganhar um peixe em um aquário. Um presente incrível, porém só se manterá vivo se você se dedicar e assumir este compromisso, de cuidar de sua vida. Ela tinha agora que assumir está responsabilidade, entregaria o pequeno presente para uma criança que aprenderia a cuidar e a amar cada dia mais. O pequeno peixe encontrou alguém com quem compartilhar suas alegrias. O amaria tanto ao ponto de buscar a razão de sua vida dentro de um mesmo aquário. 

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2 Comentários:

Às 29 de janeiro de 2013 às 17:00 , Blogger Luciana disse...

Uau! Tá me saindo um belo escritor, Rafa!
Parabéns! Texto muito bem redigido. Adorei.
Lu

 
Às 29 de janeiro de 2013 às 18:45 , Blogger Kb disse...

Tanto tempo não lia algo assim, tão bonito, tão doce e tão visceral. O sangue que deforma, mas que também faz nova coisa, dá nova aparência, novo, sempre novo. Contudo, o texto está lindo, como sempre. Parabéns!

 

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