sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Tentar, queimar...


A garganta estava seca, suas pernas tremiam como nunca e um frio, não um qualquer, um daqueles com ventos cortantes e profundos, passava por dentro de seu peito. Mas algo dentro de sua cabeça dizia para ir adiante, e mais uma vez tentar. Por mais que todas as pontes tivessem sido destruídas, ainda haveria um modo de atravessar.

Jogado em um chão frio percebeu que já não havia muito a se fazer, era aquilo, o de sempre. Duas pessoas juntas tentando lutar por uma vida que já havia se esvanecido. Enxugando juntos as lágrimas de um choro que por muitas vezes foi por felicidade, mas hoje eram apenas lágrimas, que já cansadas, não poderiam  mais tentar.

Mas alguém explica essa vontade humanamente imbecil e destrutiva, que torna nós, os seres-humanos, tão masoquistas ao ponto de apreciar esta dor e amá-la de forma estranha e doentia? É como se enfiássemos a própria mão no peito nu, rasgando a pele e retirando de la tudo que faz o nosso sangue correr e ferver nas veias, retirando toda a vontade e segurança da vida, simplesmente para entregá-lo a uma outra pessoa.

É como se qualquer indício de esperança, por menor que fosse, fizesse todos os sentimentos reacender, e toda a chama se levantar. E é óbvio que nessa brincadeira com fogo, muitos sairão queimados, ainda mais do que estavam antes. Uma queimadura de terceiro grau, penetrando a pele e deixando aquela marca lá, exposta a todos que olharem. E quando você tentar escondê-la será pior, irá doer como se fosse feita na hora.

Ele ainda se encontrava lá, naquela esperança fria de um sentimento em chamas, esperando a todo custo que pudesse novamente se queimar e novamente se marcar. O seu peito continuava vazio, e o espaço precisava ser preenchido, aquilo que ele entregou alguém precisava ser devolvido. E hoje ele entendia que isso não se preencheria com o "algo" de outra pessoa, ali dentro do próprio peito, ele precisaria sempre manter a sua própria bomba de sangue, e suas próprias vontades. Era a unica forma de não ter que enxugar mais lágrimas. Dividir o seu melhor, e não entregá-lo a outro.

Ele decidiu se levantar, queria ouvi-la, mais uma vez. Precisava ter certeza, a garganta ainda seca, as pernas tremiam cada vez mais forte e o vento agora cortava a deixar o sangue escorrer por sua pele. Mas ele era forte, por mais que parecesse destruído ainda existia uma pequena brasa, que o incentivava a lutar e tentar.

Ela saiu pela porta e o recebeu com um belo sorriso. Era tudo tão diferente, ainda linda com aqueles cabelos negros caindo sobre suas costas, os olhos castanhos sempre o hipnotizaram, a pele branca era o que o conquistava, contemplada pela boca vermelha onde ele sempre se perdia.

Olhando nos olhos dela, compreendeu, a chama ardia, a esperança reluzia. Mas o fogo não se acenderia mais ali. A abraçou e um beijo em sua testa ofereceu, dizendo o quanto se sentia grato por tudo que ela foi para ele, mas hoje ele estava ali apenas para buscar algo que ficou com ela, e por mais queimado que estivesse, ele estava grato por ela te-lo guardado tão bem.

Ainda sorrindo sentiu o espaço se preencher em seu peito, quando de volta colocou o seu "algo" no lugar. A sua própria bomba de sangue, foi esta quem mostrou a forma como esses corriam em suas veias agora. Ela sempre seria linda, a rainha de seus olhos, a chama que queimaria toda sua pele. Ele nunca desistiria de tentar, mas neste fogo ele não iria mais se queimar.


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1 Comentários:

Às 12 de outubro de 2012 às 17:40 , Blogger Sim, porque não. disse...

caraca rafa, definitivamente tu consegue através desses textos transmitir aquilo que estamos sentindo ou algo que já viemos a sentir, nego, sou teu fã!!!

 

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