quarta-feira, 4 de abril de 2012

Lobisomen - Prólogo parte 1/2





13 de junho de 1990, aquela noite parecia a mais fria do ano, o céu coberto por nuvens negras onde só uma luz iluminava aquele ambiente, a luz daquela donzela noturna, a amante da escuridão que iluminava todos abaixo dela. Um luar que deixaria qualquer romance com um gosto a mais de paixão.

Um homem em completo desespero acabou de receber a noticia que sua mulher beira entre a vida e a morte. Estava a algum tempo já sentado ali, chorando do lado de fora do hospital, quando percebe que um estranho de pele pálida, cabelos negros como a noite que os rodeava, os olhos tão profundos que parecia não dormir a dias envolvidos por uma olheira arroxeada, de uma cor tão negra que parecia se misturar com aquela escuridão sem fim. Sentou-se ao seu lado, que sem entender, ainda aos prantos, se esquivava do olhar misterioso daquele cavalheiro da noite. Ele sorria e aquele luar refletia em sua pele e só se enxergava aqueles olhos negros, profundos olhos negros, e então, em um tom suave e grave como um trovão sua voz saiu:

– A dama da noite – seu olhar fixo no luar – inspiração de poetas, luz no meio da escuridão, conselheira dos desamparados. Ah a dama da noite! Ela poderia destruir a vida de um homem por ser abençoada com tanta beleza, assim como poderia dar uma nova vida a um homem cujo desespero toma conta – dizia isso voltando seu olhar para o jovem rapaz.

Agora o rapaz olhava firmemente nos olhos daquele cavalheiro, e percebia que havia um brilho de mistério em seu olhar. Sorriu ainda com muitas lagrimas no olhar e respondeu ao cavalheiro em tom baixo.

– Sob este luar que jurei cuidar de minha esposa, que jurei nunca desampará-la, e agora estou aqui sem fazer nada, esperando pelas horas que lhe restam até que...  uma lágrima escorreu de seus olhos enquanto dizia as ultimas palavras.

O Cavalheiro muito gentil, como um melhor amigo, o amparava em silencio e esperava ate que conseguisse concluir suas palavras

–... O meu filho esta para nascer, e o medico não sabe se conseguira salvar a vida dos dois. – concluiu o homem com a voz fraca.

O cavalheiro olhava atento para o sujeito, como se cada palavra dita fosse de grande importância. Apoiou-se em seu ombro o olhou nos olhos e disse:

– Essa vida pode parecer muito injusta. Sua mulher só fez te amar durante toda vida, cuidou de você cada noite que chegou de madrugada em casa, embriagado e mal se mantendo em pé, agora seus filhos que pagarão. Viver uma vida toda sem a mãe é muito difícil. – concluiu com um sorriso de prazer no rosto.

– O que você sabe de minha vida? Eu nunca te vi, e sobre meus filhos? Minha filha tem apenas três anos, não haveria de ter contado isso a ninguém. – Dizia isso com a voz já alterada e se mostrando assustado.

– Veja meu caro, eu sou aquele que vê tudo, que sabe de tudo. – O tom de sarcasmo aumentava em sua voz – Cada gota de sofrimento de sua família eu estava lá, estive sempre ao seu lado esperando que você precisasse de mim. – Sua voz mudava para um tom de felicidade, seus olhos brilhavam de um negro para um tom avermelhado ao refletir a luz do luar. – É isso mesmo, eu já lhe conheço Sillas. Sei da sua história faz muito tempo.

Sillas engolia o choro e agora seus olhos analisavam cada centímetro daquele cavalheiro de capa negra. E com a voz tremula sussurrou

– Quem é você?
 Sou aquele que você chama há muito tempo, a quem tanta às vezes você pediu ajuda, aquele a qual você oferecia tua vida...

Sillas olhava e não podia acreditar, tantas vezes gritou para que aquele dia chegasse. Vezes em que agrediu sua esposa com palavras, ou que gritava com sua filha, vezes em que traiu sua esposa se entregando aos prazeres da carne. E então havia de ter chego o dia? Dia em que o próprio Diabo levaria sua vida em troca de deixar sua família feliz e em paz. O Cavalheiro sorria, parece que se deliciava com cada segundo daquele momento.

– Então se você me ouviu veio aqui pra me ajudar, me leve e deixe minha família em bom estado.
Sillas sentia que aquela era a hora de compensar todo mal que havia feito para sua família, hora de salvar sua mulher e seus filhos, nem que isso lhe custasse a própria vida. O Cavalheiro olhava dentro de seus olhos, como se pudesse ver todo esse sofrimento, aqueles olhos negros ficavam cada vez mais vermelhos, e então se ouviu uma profunda gargalhada. Sillas olhava assustado.

– Sua alma de nada me valerá a pena, a sua alma já tenho em minhas mãos, quero alguma coisa maior que isto.

Ele não entendia. O que poderia ser mais valioso que a própria vida? Por um momento algo passou por sua cabeça, onde Ele deu um salto e puxou o fôlego para se virar contra aquele ser, o que ele queria? Queria a vida de seu filho? Não podia deixar isso acontecer. Sillas levantou-se e correu para dentro do hospital, foi ver o estado de sua mulher. Ela parecia exausta, seu filho ainda não havia nascido, foi para a sala de espera onde a família estava reunida esperando por um milagre, ao olhar em volta percebeu que uma garotinha de pele branca como o algodão, em seus cabelos lindos cachos louros caiam sobre seus ombros, os olhos castanhos o olhavam com aflição. Então em uma vozinha aguda disse com tristeza.

 Papai, eu quero levar o meu irmãozinho pra casa. Mamãe me disse que vai ser o menino mais lindo, e que não posso deixar minhas amiguinhas tirar ele da gente.
Sillas a pegou no colo, e então começou a chorar.

 Não chora papai, eu já sei o nome dele, vai ser Christian. Vem logo Chris.

Ele olhava o brilho nos olhos dela, como poderia recusar isso, depois de tudo que aquela bela criança já havia passado, cada noite em que ela acordou chorando e Sillas gritava com ela. Ele a abraçou bem forte olhou em seus olhos e então viu o que tinha que ser feito.  Vamos levá-lo logo pra casa minha bonequinha.  enxugou suas lagrimas e saiu do hospital.

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