Lobisomen - Prólogo parte 1/2
13 de junho de 1990, aquela noite parecia a mais fria do ano, o céu coberto por nuvens negras onde só uma luz iluminava aquele ambiente, a luz daquela donzela noturna, a amante da escuridão que iluminava todos abaixo dela. Um luar que deixaria qualquer romance com um gosto a mais de paixão.
Um homem em completo desespero acabou de
receber a noticia que sua mulher beira entre a vida e a morte. Estava a
algum tempo já sentado ali, chorando do lado de fora do hospital, quando percebe que um estranho de pele
pálida, cabelos negros como a noite que os rodeava, os olhos tão profundos que parecia não dormir
a dias envolvidos por uma olheira arroxeada, de uma cor tão negra que parecia
se misturar com aquela escuridão sem fim. Sentou-se ao seu lado, que sem entender, ainda aos prantos, se
esquivava do olhar misterioso daquele cavalheiro da noite. Ele sorria e aquele
luar refletia em sua pele e só se enxergava aqueles olhos negros, profundos
olhos negros, e então, em um tom suave e grave como um trovão sua voz saiu:
– A dama da noite – seu olhar fixo no luar – inspiração de poetas, luz
no meio da escuridão, conselheira dos desamparados. Ah a dama da noite! Ela
poderia destruir a vida de um homem por ser abençoada com tanta beleza, assim
como poderia dar uma nova vida a um homem cujo desespero toma conta – dizia
isso voltando seu olhar para o jovem rapaz.
Agora o rapaz olhava firmemente nos olhos
daquele cavalheiro, e percebia que havia um brilho de mistério em seu olhar.
Sorriu ainda com muitas lagrimas no olhar e respondeu ao cavalheiro em tom
baixo.
– Sob este luar que jurei cuidar de minha esposa, que jurei nunca desampará-la,
e agora estou aqui sem fazer nada, esperando pelas horas que lhe restam até
que... – uma lágrima escorreu de seus olhos enquanto dizia as ultimas palavras.
O Cavalheiro muito gentil, como um melhor amigo, o amparava em silencio e
esperava ate que conseguisse concluir suas palavras
–... O meu filho esta para
nascer, e o medico não sabe se conseguira salvar a vida dos dois. – concluiu o
homem com a voz fraca.
O cavalheiro olhava atento para o sujeito, como
se cada palavra dita fosse de grande importância. Apoiou-se em seu ombro o
olhou nos olhos e disse:
– Essa vida pode parecer muito injusta. Sua mulher só fez te amar
durante toda vida, cuidou de você cada noite que chegou de madrugada em casa, embriagado
e mal se mantendo em pé, agora seus filhos que pagarão. Viver uma vida toda sem
a mãe é muito difícil. – concluiu com um sorriso de prazer no rosto.
– O que você sabe de minha vida? Eu nunca te vi, e sobre meus filhos?
Minha filha tem apenas três anos, não haveria de ter contado isso a ninguém. –
Dizia isso com a voz já alterada e se mostrando assustado.
– Veja meu caro, eu sou aquele que vê tudo, que sabe de tudo. – O tom de
sarcasmo aumentava em sua voz – Cada gota de sofrimento de sua família eu
estava lá, estive sempre ao seu lado esperando que você precisasse de mim. – Sua
voz mudava para um tom de felicidade, seus olhos brilhavam de um negro para um
tom avermelhado ao refletir a luz do luar. – É isso mesmo, eu já lhe conheço
Sillas. Sei da sua história faz muito tempo.
Sillas engolia o choro e agora seus olhos analisavam cada centímetro
daquele cavalheiro de capa negra. E com a voz tremula sussurrou
– Quem é você?
– Sou aquele que você chama há muito tempo, a quem tanta às vezes você
pediu ajuda, aquele a qual você oferecia tua vida...
Sillas olhava e não podia acreditar, tantas
vezes gritou para que aquele dia chegasse. Vezes em que agrediu sua esposa com
palavras, ou que gritava com sua filha, vezes em que traiu sua esposa se
entregando aos prazeres da carne. E então havia de ter chego o dia? Dia em que
o próprio Diabo levaria sua vida em troca de deixar sua família feliz e em paz.
O Cavalheiro sorria, parece que se deliciava com cada segundo daquele momento.
– Então se você me ouviu veio aqui pra me ajudar, me leve e deixe minha
família em bom estado.
Sillas sentia que aquela era a hora de compensar todo mal que havia
feito para sua família, hora de salvar sua mulher e seus filhos, nem que isso
lhe custasse a própria vida. O Cavalheiro olhava dentro de seus olhos, como se
pudesse ver todo esse sofrimento, aqueles olhos negros ficavam cada vez mais
vermelhos, e então se ouviu uma profunda gargalhada. Sillas olhava assustado.
– Sua alma de nada me valerá a pena, a sua alma já tenho em minhas mãos,
quero alguma coisa maior que isto.
Ele não entendia. O que poderia ser mais
valioso que a própria vida? Por um momento algo passou por sua cabeça, onde Ele
deu um salto e puxou o fôlego para se virar contra aquele ser, o que ele
queria? Queria a vida de seu filho? Não podia deixar isso acontecer. Sillas
levantou-se e correu para dentro do hospital, foi ver o estado de sua mulher. Ela
parecia exausta, seu filho ainda não havia nascido, foi para a sala de espera
onde a família estava reunida esperando por um milagre, ao olhar em volta
percebeu que uma garotinha de pele branca como o algodão, em seus cabelos
lindos cachos louros caiam sobre seus ombros, os olhos castanhos o olhavam com
aflição. Então em uma vozinha aguda disse com tristeza.
– Papai, eu quero levar o meu irmãozinho pra casa. Mamãe me disse que vai ser o menino mais lindo, e que não posso deixar minhas amiguinhas tirar ele da gente.
Sillas a pegou no colo, e então começou a chorar.
– Não chora papai, eu já sei o nome dele, vai ser Christian. Vem logo Chris.
Ele olhava o brilho nos olhos dela, como poderia recusar isso, depois de tudo que aquela bela criança já havia passado, cada noite em que ela acordou chorando e Sillas gritava com ela. Ele a abraçou bem forte olhou em seus olhos e então viu o que tinha que ser feito. – Vamos levá-lo logo pra casa minha bonequinha. – enxugou suas lagrimas e saiu do hospital.
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