quinta-feira, 9 de maio de 2013

Frio Passado

Está não é mais uma história dela e dele, de abraços e beijos apaixonados. É apenas o frio, a garota, o trem e o destino. Todos sempre esperam por um surpreendente conto com o final feliz, talvez isso seja uma coisa de ser humano desesperado por um motivo pra sorrir, uma pitadinha de qualquer coisa, qualquer esperança, um beijo, um gosto, um jeito talvez. Mas hoje não, desta vez não.


Sobre o frio eu tenho a dizer que é necessário. Aquele desespero de algo sobre sua pele, para que o vento não posso sentir o gosto de sua carne, é quase tão quente quanto a vontade de fugir deste frio. Sim, existe uma coisa muito quente no meio do gelo, que costuma queimar quem se aproxima demais. Aos poucos você vê seu corpo gritar por um pouco de aconchego, grita por um abraço apertado de uma lã quente sobre sua pele, grita de desespero para que o frio cesse, e este quer é te queimar, apenas isso.

Agora falaremos sobre a garota. Loura, os cabelos caindo sobre seu rosto. Os lábios rachados com todo aquele clima, nos olhos víamos que algo ardia, algo a feria. Talvez alguém a tivesse maltratado apenas, será que estava passando por algum momento difícil e ninguém parou para ouvi-la? A resposta eu não sei, a verdade é que aqueles olhos verdes brilhavam conforme a luz os tocava, deles escorriam pequenas gotas de mágoas que navegavam por todo o rosto da garota. Ela estava sofrendo, porém fazia isto calada, era uma coisa apenas dela.

As arvores corriam em sua direção, mas andavam em uma mesma fila, respeitando a linha entre elas. Da janela de um trem se pode ver muita coisa, as nuvens que cobriam todo aquele céu, o frio. Este era o que mais incomodava, por mais que as portas da cabine estivessem fechadas, ele ainda dava um jeito de entrar pelas pequenas brechas. Rodeando o corpo da garota, fazendo com que a mesma se abraçasse tentando se desligar daquela sensação gelada.

Sobre o trem resta apenas a magia de toda a situação, para mim era só mais uma cabine vazia, onde uma garota loura estava sentada, com frio, tentando esconder os seus sentimentos. Mas estes borbulhavam em sua face, correndo por dentro daquele lugar e morrendo no vidro congelado. O frio parecia mais intenso vindo de dentro para fora, do que aquele que tentava vir de fora para dentro.

O destino era o grande mistério, claro que eu sei para onde o trem iria, uma pacata cidade em Londres, devo ter anotado o nome em algum lugar, mas a verdade que não me lembro do mesmo. Eu tinha a sensação de estar indo pra casa, mas minha memória anda confusa. Voltemos para a garota, esta viagem parece importante, talvez um encontro ou uma fuga, a verdade é que não sei, isso me intriga. Talvez a grande resposta desta questão toda seja o tal do destino. 

De sua bolsa ela retira uma fotografia, eu diria que aquele sorriso em seu rosto seria familiar,talvez a conhecesse. Não me lembro muito bem das coisas, tudo o que contei até agora é o que meus olhos viram. Cabelos louros, olhos verdes, arvores que correm, frio que dança sobre a pele, cada detalhe bobo e sem sentido. Ainda não consegui compreender. 

Olhando pela janela daquela cabine, vi quando a foto foi posta de lado, então era isto. Aquele cara de cabelos castanhos, fazendo careta ao lado dela. O mesmo cara que refletia no vidro diante de meus olhos. Eu era o motivo o tempo todo, o destino, as lágrimas e o frio. Mas ela estava ali diante de meus olhos, por quê não posso tocá-la? Olhe para mim, sou eu, a sua história, agora eu posso me lembrar. Ainda estou aqui, oferecendo-te um último beijo, me deixe despertá-la.

Por um instante vi sua reação, agora o frio a maltratava ainda mais, conforme eu gritava e me desesperava para que ela me notasse, mas o frio se alastrava dentro e fora de seu peito. Eu era apenas isso, um frio, um sonho, um peso, uma mágoa. Era apenas o arrepio que ela ainda sentia, se transformando nas lágrimas daquele rosto, um grilhão prendendo a sua perna. Um passado que a atormentava.

Ela continuava sendo a minha história, mas por fim agora eu me tornei apenas uma memória.

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