terça-feira, 28 de maio de 2013

Carpe Diem: Steve Wilson

Para acompanhar leia: Conflitos

É claro que Miguel desapareceria depois do ocorrido. Parecia um homem, agia como um, mas por fim era só um garoto. Um pequeno garoto com medo do que a vida podia lhe proporcionar. Steve entendeu isto, mas se recusava a pensar que teria que ficar mais um dia longe do mesmo. Então era apenas isso? Um dia, algumas bebidas, um beijo e um adeus? Claro que estava ciente a respeito do que acontecia com Claire, queria não pensar naquilo, mas era inevitável.


Em casa solto em algum sofá grande, os pés espalhados em lados opostos. Em uma mão o celular esperançoso por uma mensagem, noutra uma garrafa de cerveja, já um pouco quente devido ao tempo que estava ali. Era desta forma que Steve decidira passar o dia de hoje e alguns que antecederam este. Nunca dependeu de ninguém neste quesito de "ser feliz", sabia como lidar com seus próprios demônios, caso não conseguisse sozinho poderia usar outros meios que lhe tirassem de órbita por algum tempo.

Talvez o motivo que nos trouxe aquela casa, grande demais para uma só pessoa, tenha sido isto. Esses meios de fugir da realidade que Steve buscava para se sentir melhor. É claro que eu o julgaria, talvez você devesse fazer o mesmo, afinal somos seres humanos, estupidamente capazes de questionar as escolhas de cada um e hipocritamente sábios para dizer o que devem fazer com suas vidas, quando nem das nossas mesmo podemos cuidar.

Não queria sair dali, era prisioneiro de seus próprios pensamentos. Miguel havia sumido, simplesmente isto, sumido. Era sempre a mesma história na vida de Steve. As pessoas o deixava de lado para que pudessem viver de maneira mais fácil. Foi assim com seus pais, foi assim com Jason, iria ser assim com Miguel. Talvez no fim ele fosse apenas a peça que sobrava na montagem de uma nova máquina. Mas ele se esquecia que as peças são conferidas antes de serem embaladas e todas eram importantes.

Pra que chorar? Sentir-se triste? Existiria sempre um skate sobre seus pés que poderia anestesiar sua vida, e se lhe faltasse a vontade, aquela pequena carreira de um pó branco que acabara de inalar sobre a mesa, resolveria isso. O incrível poder mágico da cocaína, que te liga para a vida e te desliga dela, tudo ao mesmo tempo. Fugindo da realidade e se escondendo de todo o resto. Steve não queria pensar sobre, apenas fugir.

Voltemos agora aquela nossa pista de skate que estivemos há algum tempo atrás. Naquela época havia um garoto triste caindo do seu skate, enquanto Steve ria e dava algumas dicas sobre como se manter sobre o mesmo. "Dobre seus joelhos" foi o que disse para o garoto que se escondia sob o boné. Porém acabou por direcionar seus olhos, castanhos claros que ao toque da lua se tornavam amarelos feito o mel, ao dele. Ali sabia que muita coisa aconteceria, mas resolveu apenas sorrir.

Andar de skate na madrugada, sobre aquela pista, era um tipo de terapia para Steve. Nunca dividira isso com ninguém, era apenas o seu momento. Mas não se importou de dividir isto com aquele garoto, que em um momento caiu em sua frente, fazendo-os rirem juntos da atrapalhada manobra. Após tantas tentativas se cansaram, caminharam um pouco na areia da praia e se sentaram em frente ao mar. 

Miguel lhe contou sobre uma história de amor mal resolvida. Ouviu em silêncio, apenas acompanhava com os olhos. O mar era calmo, como todo o clima que circundavam os dois. A única coisa que pesava era um bilhete que Miguel arrancara do bolso. Nele algumas frases manchadas com lágrimas, tudo o que lembrava é que alguma garota dizia a frase "..cada vez entenderei que você não voltará". Então podia compreender que o garoto, assim como ele, armazenava saudades dentro de seu peito.

Nunca soube dizer o porquê, nem como aconteceu. Mas ali já amava Miguel. Talvez tenha sido essa coisa louca com os olhos, que se cruzam e fecundam a vontade, fazendo com que o desejo se torne esperança e carinho. Talvez tenha sido o sorriso que voou fácil entre as conversas dos dois, talvez tenha sido o skate, o mar, a lua ou o bilhete. O motivo ainda era um mistério, mas Steve sabia que amava e sabia que agora o garoto tinha medo de sentir o mesmo por ele.

Agora estamos novamente sentados no sofá, mas o rapaz não está mais lá. Acima dele só um celular jogado como se alguém houvesse desistido de esperar. Steve está em seu quarto, as janelas estão fechadas. Sobre a cama um livro de capa dura. Eu não acreditaria, nem que ele me dissesse, que era uma leitura o que ele estava prestes a fazer. Afinal conheço bem esse garoto de cabelos louros penteados para cima, que ao se sentir sozinho e com medo, prefere apenas fugir. Algum papel enrolado em suas mãos me contou que ele estava preste a mais uma vez usar o tal "pó mágico" que desligava seus problemas. Pobre Steve.

Era mais um dia, mais uma noite. Miguel estava com medo, Steve também. Mas algo mudou hoje, o seu celular ficou sobre o sofá, com ele apenas estava a incerteza, a insegurança, as angústias e a droga. Caiu no sono antes que pudesse imaginar. Enquanto o aparelho decidira indicar vida, uma vida que havia esperado há algumas semanas após a noite que passaram juntos. Uma vida que sugara as forças e vontades de Steve. Era um celular distante que contava que existia mais capítulos nesta história sobre o skate, mar, lua e bilhetes.

Nova Mensagem de Miguel:
Sinto sua falta.

Marcadores: ,

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial