segunda-feira, 18 de maio de 2015

A droga que Sobrou


– Uma cerveja, por favor.

Sentou-se sozinho naquela mesa de bar. Música calma, três garotas na mesa ao lado, um casal a mesa em sua frente, um amigo fez piada na mesa a esquerda e os outros quatro riram dela. Aguardou mais alguns minutos, até que o garçom trouxesse o que pediu. Agradeceu e encheu o primeiro copo e assim continuou até que ele se esvaziasse por mais de cinco vezes, então ela apareceu do outro lado do bar.

Claro que ela estaria linda, como se isso fosse alguma novidade. Cabelos longos e negros descendo até sua cintura, os olhos num castanho claro que se mistura ao tom de sua pele. Graças há vários dias que ela deveria ter passado na praia. Estava mais morena do que costumava ser, do que ele costumava lembrar. Já conhecia aquela amiga de cabelos vermelhos ao seu lado, assim como sabia que aquele cara junto delas não acompanhava a ruiva, era apenas um primo, este que adoraria experimentar aquela pele morena. Droga!

Pensou em pedir uma terceira garrafa, era quantas havia contado até aquele momento, mas preferiu se retirar. Sem fingir, ou disfarçar gentilezas. Não estava feliz lá, e talvez não estivesse feliz em lugar algum, ela sabia disso. Ela sabia muito sobre ele, e ele mais ainda sobre ela. Três anos é muito tempo para ser de alguém.

Dois cigarros, era só o que restava naquela caixa. Claro que ele já havia fumado um enquanto dirigia e outro após transar com aquela mesma garota loura que adorava atender suas ligações e topava fazer o que ele quisesse. Transas fáceis, distrações. Mas em sua casa percebeu que a caixa estava vazia e a cabeça ainda cheia. Estava errado, precisava se ocupar mais.

Discou o número de um amigo. Desligado. Olhou na tela do facebook e viu onde estava sendo a festa daquela noite, ainda era cedo, uma hora da manhã é só o começo de uma sexta-feira. Colocou aquela roupa que chamaria alguma atenção, não que isso importasse, sexo ele fazia a qualquer hora do dia, aliás já havia feito há uma hora atrás, queria apenas continuar a se ocupar. 

– Vodca, por favor.

Estava sozinho, dançando sozinho e curtindo sozinho. Até que encontrou três ou quatro amigos mais a diante. Uniu-se a eles e continuaram a festa ali. A música estava alta, agudos e graves batendo dentro de sua cabeça, festa eletrônica e muita gente. Não era a ideia, mas foi uma ótima sugestão, quando alguém sugeriu “abra a boca” e ele concordou. Agora prendia com a língua algo abaixo dela, enquanto aguardava o ecstasy fazer efeito.

Um baseado aceso, queimando até a última ponta. Já não sabia mais quanto amigos havia naquela roda, nem se os conhecia de verdade, estava apenas se divertindo. E fugindo, cada vez mais, fugindo.

Nada contra estar sóbrio, não mesmo. Ele não tinha problemas com isso, mas as vezes dava uma certa preguiça. As pessoas são complicadas, elas se enroscam em você, criam o ninho em seu peito e depois que colocam os seus ovos lá, elas voam. Partem pra longe, para onde você não possa alcançar. A saudade é negra, como aqueles longos cabelos, e também cheirava igual.

Agora já era difícil pensar em qualquer coisa, e nesse momento ele estava bem. Neste momento ele não precisaria da cerveja, cigarros, sexo, vodca ou qualquer outra droga. Mesmo que já tivesse consumido todas elas, agora parecia que era só ele e mais nada. A música, a dança, o vento, a água e o sangue que corria dentro de seu corpo. Era tudo, apenas, sobre ele e mais ninguém. O copo estava vazio, o coração muito cheio, tanto que parecia explodir a cada batida. 

Ele amava estar assim. E amar algo, depois de tudo, era uma benção. Esta que um dia foi aquela garota, hoje era apenas sobre todas as coisas que tiravam sua sanidade. Era sobre todos os prazeres que não lhe rendiam nada. As coisas eram exatamente como ela foi: A sensação da pele queimar, o tesão, o sangue pulsando e assim estaria até que tudo acabasse. Ela era a merda de uma droga idiota e mal inventada.

Acordou as três da tarde naquele sábado. Nenhuma mensagem, ninguém.

Abriu a geladeira, parecia infeliz. Mas talvez devesse tomar apenas uma cerveja, a noite poderia ligar pra alguém, fumar alguns cigarros e sair mais uma vez, tanto faz.

Era uma droga estar sóbrio, depois de se tornar toda a saudade que sobrou.

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